Os comerciantes na fronteira entre Chaves, no distrito de Vila Real, e Verín, em Espanha, onde trabalham portugueses e galegos, foram surpreendidos com o novo encerramento das fronteiras e receiam os efeitos económicos se a reabertura demorar.

Na localidade de Feces de Abaixo, Verín, na Galiza, o comércio pode estar aberto, mas desde domingo que o movimento voltou a ser reduzido com o novo encerramento das fronteiras decretado pelo Governo português devido ao agravamento da pandemia de covid-19.

“Nunca pensei que voltasse a acontecer após termos fechado em março aqueles meses todos, mas aconteceu. Isto é muito mau para o negócio, é fatídico”, realça à agência Lusa Puri Regueiro, dona de um supermercado com o mesmo nome.

A galega espera que a fronteira possa reabrir no final dos 15 dias estipulados pelo Governo, mas teme que a medida se possa prolongar, pedindo que, em vez de se fecharem estradas, se controlem “as festas clandestinas e ajuntamentos" que provocam o aumento de casos de covid-19.

Na fronteira que liga Vila Verde da Raia, concelho de Chaves, a Verín, duas localidades que formam uma eurocidade desde 2008, o comércio do lado espanhol depende sobretudo de clientes portugueses e lá trabalham pessoas das duas nacionalidades.

A flaviense Marisa Santos, empregada num bar que é gerido por um português, explica também que o movimento já era reduzido com as fronteiras abertas e nos primeiros dias após o fecho tem sido praticamente nulo.

Não muito distante da fronteira, um posto de abastecimento de combustíveis gerido pelo galego Juan Feijó volta a ver reduzido o movimento de viaturas.

“Vai custar muito mais, da outra vez vínhamos de uma situação boa, e agora a situação já era muito má e ainda vai ser pior. Não faz sentido este fecho nesta altura”, defende.

Naquele negócio que depende de portugueses que se deslocam para abastecer o depósito e comprar gás trabalham mais portugueses do que espanhóis, lembra.

Juan Feijó critica ainda a falta de cooperação dentro da União Europeia (UE) e até numa eurocidade: “Na UE cada estado faz o que quer, como seria se os Estados Unidos da América ou o Brasil fechassem estados entre si?”.

O regresso do pouco movimento nos comércios na fronteira é interrompido constantemente pelos veículos pesados e ligeiros autorizados a cruzarem os países, que são desviados da autoestrada para os pontos de controlo, quer do lado português, quer do lado espanhol.

Do lado português, GNR e SEF são responsáveis por fiscalizar quem entra e sai do país, sendo a fronteira de Vila Verde da Raia a quarta mais movimentada de todos os pontos de passagem autorizada.

Segundo dados a que a Lusa teve hoje acesso, até segunda-feira tinham sido controladas 1.823 pessoas naquele ponto, 1.136 destas apenas nas últimas 24 horas. No total, 26 pessoas foram impedidas de circular.

Em cooperação com a GNR e a Infraestruturas de Portugal, a Câmara de Chaves volta a colocar hoje barreiras de betão nas ligações terrestres com Espanha naquele concelho, à semelhança do primeiro fecho de fronteiras, explicou à Lusa o presidente Nuno Vaz.

“Temos muitos pontos terrestres de passagem. Para além disso, existe uma reação intensa entre portugueses e galegos nas nossas aldeias, onde há partilhas, ligações familiares ou económicas”, destaca.

Para o autarca socialista, as limitações à circulação já existentes já se refletiam na economia do concelho, que os galegos visitam à procura da restauração ou comércios.

“As trocas comerciais não têm expressão neste momento e a decisão vai condicionar a circulação, mas já não agrava muito a situação existente”, considera.

DYMC // JAP Lusa



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