Os comerciantes portugueses de Chaves e os galegos de Feces de Abaixo vão juntar-se na sexta-feira num protesto conjunto pela reabertura da fronteira entre Portugal e Espanha, devido aos prejuízos económicos causados pelo seu encerramento.

Helena Teixeira, proprietária de uma recauchutagem em Chaves, realçou hoje à Lusa que irá marcar presença na fronteira de Vila Verde da Raia, concelho de Chaves, no distrito de Vila Real, para se juntar aos comerciantes galegos que marcaram nova manifestação para sexta-feira.

Estes empresários raianos têm exigido a reabertura das fronteiras, encerradas pela segunda vez desde 31 de janeiro devido à pandemia de covid-19.

Chaves faz fronteira com Feces de Abaixo, em Verín, na Galiza. Chaves e Verín, localidades separadas por 28 quilómetros, formam mesmo desde 2008 uma eurocidade, um projeto de cooperação transfronteiriço que envolve a partilha de um cartão de cidadão que dá acesso a piscinas, bibliotecas, eventos, formações ou concursos, bem uma agenda cultural e mais recentemente transportes.

Helena Teixeira lembra que essa relação é também comercial e que a eurocidade não deve estar separada pela fronteira num momento em que a situação da pandemia de covid-19 “está controlada nas duas localidades”.

“A minha empresa conta com muito cliente espanhol. Seria bom que os nossos governantes tivessem isso em consideração, pois a crise está bastante acentuada no nosso concelho”, apontou.

Também Jorge Cruz, gerente de um dos grandes armazéns da cidade flaviense, que os espanhóis procuram para comprar têxteis ou produtos para o lar, destacou à agência Lusa que irá aderir ao protesto, pois a economia das duas localidades sofre com a fronteira encerrada.

“A maioria dos nossos clientes é espanhol. Apenas com a cidade de Chaves e a região não temos mercado para este tipo de armazéns e dependemos de clientes de fora. Já pudemos reabrir, mas estamos a trabalhar com um mercado que não é suficiente”, apontou.

Para Jorge Cruz, as entidades responsáveis devem “ter sensibilidade” e “proteger mais o comércio” permitindo a circulação entre habitantes de Chaves e Verín “mantendo os cuidados sanitários”.

Em plena Estrada Nacional (EN) 2, uma empresa de lavagens de automóveis sofre também com a ausência do cliente do país vizinho.

“Também vamos estar presentes na manifestação de sexta-feira e juntarmo-nos aos galegos no protesto pela reabertura das fronteiras. Trabalhamos com muitos clientes espanhóis e estes meses têm sido muito difíceis”, sublinhou Carla Rodrigues.

Angel Alonso, proprietário de um posto de abastecimento de combustíveis perto da fronteira entre Chaves e Verín, tem sido um dos promotores das manifestações pela reabertura da fronteira e contou à Lusa que espera ver comerciantes flavienses a aderirem ao novo protesto de sexta-feira.

“Chaves também está a perder muito negócio sem os espanhóis e queremos contar com eles na manifestação”, atirou.

O empresário galego acrescentou ainda que, na terça-feira, os comerciantes de Feces de Abaixo tiveram uma reunião com o subdelegado do Governo espanhol em Ourense, também na Galiza, para “manifestar a vontade de que a eurocidade seja mais do que apenas algo no papel”.

“A convivência entre Chaves e Verín já existe, mas a eurocidade não pode apenas servir para alguns eventos ao ano. Explicámos que têm de ser criadas soluções que resolvam estas burocracias caso algo semelhante a esta pandemia aconteça no futuro para que a fronteira não seja encerrada”, vincou Angel Alonso.

Segundo os dados divulgados pela eurocidade, esta envolve um conjunto populacional transfronteiriço que constitui uma área urbana funcional que reúne cerca de 60 mil habitantes.

A eurocidade Chaves-Verín defendeu na segunda-feira a livre circulação de pessoas nos espaços que ligam localidades portuguesas e espanholas, para minimizar o impacto económico causado pelo encerramento das fronteiras devido à pandemia de covid-19.

“Fizemos de forma reiterada uma proposta aos governos dos respetivos países para que todos os residentes das eurocidades de Portugal e Espanha tivessem um estatuto muito próximo daquele que têm os trabalhadores transfronteiriços”, tinha explicado o presidente da eurocidade Chaves-Verín e da Câmara de Chaves, Nuno Vaz.

Fotografia: AP



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