Comerciantes da zona ribeirinha da cidade de Chaves aguardam a descida do caudal do rio Tâmega para poderem entrar nos edifícios e contabilizar os estragos causados pela cheia de hoje.

“Não posso fazer ponto de situação porque ainda não tenho qualquer conhecimento dos estragos, porque o nível da água continua a subir e eu estou impossibilitada de entrar”, afirmou à agência Lusa Catarina Nascimento, proprietária do 83 Gastrobar, localizado na zona ribeirinha, junto à ponte romana de Chaves, no norte do distrito de Vila Real.

A responsável disse que só depois do caudal do Tâmega baixar é que será possível contabilizar os estragos. O caudal do rio subiu cerca de três metros.

“Retirei o que podia, subi o que podia, mas efetivamente o equipamento está lá dentro. Chamei a Proteção Civil ontem (domingo) para me ajudar. Agora, contra a força da água ninguém pode fazer nada e é aguardar que baixe para contabilizar os estragos”, salientou.

Com o bar aberto há cerca de um ano, Catarina Nascimento sofreu agora a primeira cheia.

“Estou na zona ribeirinha, obviamente tenho noção que efetivamente acontece isto de quatro em quatro anos, ou de cinco em cinco anos. Agora, não pensava que fosse já este ano, é um negócio muito humilde, de muito esforço e muito sacrifício e de um investimento familiar no qual pus toda a minha força”, referiu.

A comerciante disse que não sabe quando lhe vai ser possível reabrir o espaço.

“Vamos ver onde a água para e qual será o custo (…) Se subir mais do que um metro ao nível das mesas, o estrago é total. São equipamentos muito caros e vamos ver no que vai dar”, apontou.

Devido ao agravamento das condições meteorológicas verificadas no domingo, a Proteção Civil Municipal alertou os residentes e comerciantes das zonas ribeirinhas da cidade para a adoção de medidas preventivas e salvaguarda de bens.

Foram também interditadas algumas vias junto à zona ribeirinha, de forma a impedir o estacionamento de viaturas.

O presidente da Câmara Chaves, Nuno Vaz, disse, num ponto de situação feito ao início da tarde, que se espera uma estabilização do caudal do rio.

“De facto, nas últimas horas o nível do rio tem subido entre três a quatro centímetros por hora. Continua a subir mas já existem alguns indícios de que estará a estabilizar”, salientou.

No entanto, referiu que, apesar de um desagravamento das condições meteorológicas, o rio continua receber a água resultante da precipitação intensa dos últimos dias.

Só depois da descida do caudal será possível realizar um levantamento dos estragos causados pela cheia quer ao nível dos estabelecimentos comerciais, como das habitações e dos equipamentos públicos.

O relatório será, segundo o autarca, remetido à Agência Portuguesa do Ambiente e ao Ministério do Ambiente, com vista, se for necessário, à implementação de medidas de apoio.

O Tâmega galgou as margens direita e esquerda esta madrugada e atingiu ainda campos agrícolas.

Nuno Vaz disse que é desejável que, no futuro, existam mais instrumentos de monitorização do rio, com nova tecnologia que permita conhecer a evolução da situação em “cada momento e nos pontos mais relevantes”.

Agora, explicou, é feita uma “avaliação visual, com medições em determinados pontos do rio”.

O autarca afirmou ainda que, a montante de Chaves, não existe qualquer barragem no rio e lembrou que, a jusante, ainda está em construção a barragem do Alto Tâmega.

“Não há bela sem senão. Se antes estávamos a falar de uma situação de seca, agora estamos a falar de uma inundação. Isto deve-nos fazer pensar, porque situações de alterações climáticas vão sendo recorrentes, os seus impactos vão ser ainda mais intensos, por isso todos temos que percecionar que temos que fazer mais pelo ambiente”, salientou.

No sul do distrito de Vila Real, especificamente no Pinhão (Alijó) e Régua, as atenções estão centradas na subida do caudal do rio Douro, estando a situação a ser monitorizada em permanência.

O vereador da Proteção Civil de Alijó, Vítor Ferreira, disse à Lusa que os bombeiros do Pinhão estão fazer vigilância e que foram alertados os residentes e comerciantes da zona ribeirinha do Douro, devido à previsão de aumento da água do rio em consequência da libertação de caudais nas barragens espanholas e na barragem portuguesa de Foz Tua.

“É esperado que o rio possa galgar a margem e subir até aquela zona comercial, que tem cafés e restaurantes”, referiu.

Num aviso lançado à população esta manhã, a Câmara de Alijó apelou à adoção de medidas preventivas” e às “devidas precauções para acautelarem a sua segurança, assim como dos seus bens”.

Ainda em Alijó, o vereador referiu que se está a proceder à limpeza de uma estrada entre as aldeias do Amieiro e Franzilhal, devido a derrocadas verificadas na madrugada de sábado para domingo.

Disse ainda que, em consequência do mau tempo, houve alguns desabamentos de taludes, que já estão ser sinalizados.

A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) colocou o distrito de Vila Real em alerta vermelho no domingo devido à precipitação intensa. Em igual situação estiveram os distritos do Porto, Viana do Castelo, Braga e Aveiro.




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