A companhia Filandorra celebra a “Semana do Teatro” com um protesto contra o ministro da Cultura em Vila Real, com a abertura da sala de ensaios à comunidade e a estreia do palco “mais pequeno do mundo".
A Filandorra – Teatro do Nordeste apresentou hoje, em conferência de imprensa, a iniciativa “Semana do Teatro” que vai realizar na próxima semana, que inclui a celebração do Dia Mundial do Teatro na quarta-feira (27 de março).
E é nesse dia que a companhia concretiza o ato performativo “O cutelo do Adão”, uma iniciativa que é de protesto contra o ainda ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.
A ação acontece um dia antes do primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro, apresentar o seu Governo ao Presidente da República.
“Vamos exibir o cutelo do Adão, feito em aço de Trás-os-Montes”, explicou o diretor da Filandorra, David Carvalho, que descreve o ministro como um “defensor das linhas de corte”.
Em 2023, a Filandorra não foi contemplada com o apoio financeiro da Direção-Geral das Artes (DGARTES).
Os atores vestidos de negro vão juntar-se no centro da cidade de Vila Real, na Avenida Carvalho Araújo, e vão estar com a boca tapada a representar uma “espécie de censura dos tempos modernos”.
“E o cutelo vai aparecer, mas há também uma imagem de esperança no futuro”, antecipou David Carvalho.
O responsável descreveu o último ano como “muito difícil para a companhia”, que disse que sobreviveu com o apoio dos 25 municípios com quem celebrou protocolos e mais cinco que compraram espetáculos.
“Era impossível acabar com um património que tem 38 anos e foi também a resposta do público, das autoridades locais, das câmaras, que duplicaram apoio na esperança que este Governo resolvesse, mas não resolveu nada”, frisou.
A companhia perdeu duas atrizes neste período que optaram pela reforma antecipada, mantém 11 atores efetivos, mais quatro colaboradores, e foi à banca pedir empréstimo para garantir salários.
Embora já esteja a celebrar o “mês do Teatro” desde o início de março, a Filandorra vai intensificar as suas atividades durante a próxima semana e abrir o “Teatro Caixa”.
“É abrir a nossa sala de ensaios à comunidade (…) O Teatro Caixa é especialmente dedicado às pessoas que queiram trazer projetos e partilhar experiências connosco”, afirmou Cristina Mota de Carvalho.
Ou seja, a companhia abre as portas da sua sede a quem quiser concretizar projetos que podem ser de teatro, dança, de música ou leituras encenadas, transformando este espaço num centro artístico.
Na segunda-feira, o grupo estreia o espetáculo mais pequeno do mundo que tem um palco sobre rodas, ou seja, a carrinha de transporte da companhia vai ser transformada numa sala de espetáculos que tem capacidade para uma assistência de cinco pessoas.
O espetáculo “A estranha coincidência”, uma adaptação livre do texto de Ionesco “A cantora careca”, será protagonizado por Débora Ribeiro e Silvano Magalhães, dura 15 minutos e terá quatro sessões durante a manhã e mais quatro à tarde.
“É uma experiência nova que vai decorrer no estacionamento da ‘Caixa’”, referiu Cristina Mota de Carvalho.
A Filandorra vai lançar também o projeto “Espelho meu, espelho teu”, que quer proporcionar aos mais novos um contacto direto com a arte dramática.
É uma formação, que acontecerá uma vez por mês, e ali as crianças poderão explorar os seus cinco sentidos através de do teatro ou de jogos.
Também na próxima semana, a Semana Santa para os católicos, a companhia vai participar em projetos com a comunidade, como a dramatização da Via Dolorosa em Vila Real (quarta-feira) e Vila Flor (dia 29 de março) e, no dia 30, vai ao castelo de Montalegre para a iniciativa a “Queima do Judas”.