Uma equipa de arqueólogos vai escavar a partir do dia 20 o complexo romano mineiro de Tresminas, em Vila Pouca de Aguiar, que a autarquia local quer candidatar a património mundial da UNESCO.
O projecto de investigação «Complexo Mineiro de Tresminas», imóvel classificado como de Interesse Público em 1997, pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), tem início este ano e vai decorrer em todos os Verão dos próximos três anos.
O presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar, Domingos Dias, disse hoje à Agência Lusa que este projecto «é mais um passo para a candidatura das minas romanas a património mundial da UNESCO».
A equipa liderada por Carlos Batata, especialista em arqueologia romana, vai para o terreno a 20 de Agosto onde, até meados de Setembro, efectuará sondagens em locais referenciados como acampamentos de soldados romanos e habitação para os trabalhadores, onde estes seriam enterrados.
O arqueólogo disse à Lusa que o auge da exploração de ouro em Tresminas (freguesia de Tresminas) terá ocorrido durante os séculos I e II d.C, mas, segundo frisou, pretende-se ainda através destas escavações comprovar se a exploração mineira já era anterior à chegada dos romanos.
Segundo um investigador espanhol, neste território eram explorados metais nos fins do período Neolítico e sobretudo nas idades do bronze e do ferro.
Carlos Batata referiu que vai ser também estudado um castro da idade do ferro, o que permitirá saber qual «a influência dos povos galaicos e o seu papel na exploração mineira».
A exploração mineira em Tresminas realizava-se essencialmente pelo desmonte a céu aberto, sendo disso resultado os desfiladeiros que são as cortas (ou lagos) de Covas e Ribeirinha.
Um engenheiro de minas inglês calculou que 2000 trabalhadores operando diariamente levariam 200 anos a fazer estes desmontes, sendo necessário remover pelo menos 5.800.000 metros cúbicos.
Estas minas seriam uma das «mais importantes» do Império Romano, segundo Carlos Batata, que destacou a descoberta de uma quantidade enorme de inscrições e de artefactos ligados à actividade mineira.
Depois de algumas prospecções efectuadas, pressupõe-se a existência de determinadas construções, nomeadamente edifícios administrativos, casernas, balneários, complexos industriais, armazéns, silos, mercados, lojas, casas de habitação, templos e santuários.
O estacionamento de militares em Tresminas, onde, para além de soldados da sétima legião, está também comprovada a estadia de secções da cohors I Gallica equitata civium romanorum, reflecte a importância destas minas para o Império Romano.
O arqueólogo considera que a existência na Península Ibérica de metais como o ouro, prata e cobre, foi um factor de atracção diversos povos.
Paralelamente, a autarquia vai avançar com a recuperação de monumentos (capela, pelourinho) e fachadas nas aldeias envolventes às minas romanas, designadamente Vales, Ribeirinha, Alfarela de Jales, Covas, Tresminas, Tinhela de Baixo e Tinhela de Cima.
No âmbito do projecto, que conta com um apoio financeiro de 500 mil euros de fundos comunitários, vai ainda ser construído um centro interpretativo.
Carlos Batata está ainda a efectuar a carta arqueológica de Vila Pouca de Aguiar a qual, segundo Domingos Dias, deverá estar concluída até ao final do ano.
O objectivo é, de acordo com o autarca, fazer um «levantamento exaustivo dos locais arqueológicos» para potenciar turisticamente o concelho.