A aldeia de Sambade, em Alfândega da Fé, quer contribuir para a criação da rota dos Judeus em Trás-os-Montes e dinamizar o turismo cultural e religioso com o legado da comunidade judaica que ali viveu há 400 anos.
O ponto de partida para esse trabalho é o livro \"os Marranos de Trás-os-Montes: judeus novos na diáspora: o caso de Sambade\", que será apresentado, no sábado, na localidade transmontana, como contou hoje à Lusa a presidente da Câmara de Alfândega da Fé, Berta Nunes.
O município apoia os projetos da maior aldeia do concelho que, de acordo com a investigação que deu origem ao livro, albergava, no século XVII, \"uma laboriosa comunidade de cristãos-novos que tornavam florescente a indústria de tecidos de linho, lã e seda, comunidade que foi desmantelada pela Inquisição em uma verdadeira operação de limpeza étnica\".
O trabalho é da autoria de António Júlio Andrade e Maria Fernanda Guimarães, que se têm dedicado ao estudo da presença judaica na região, e que encontraram documentos históricos da presença dos cristãos-novos na aldeia e também descendentes.
\"Em França, como professor da universidade de Paris e renomeado investigador do Centro de Estudos Espaciais, Jacques Blamont apresenta-se como descendente direto de uma das famílias fugidas de Sambade há 400 quase anos. Em Vancouver, Canadá, o famoso arquiteto Richard Henriques, no museu que construiu de sua família, reclama a herança dessa gente que de Trás-os-Montes partiu e foi dar vida a chãos da Jamaica e outras terras das Índias Ocidentais\", relatam no livro.
O livro debruça-se sobre \"a presença judaica nesta aldeia, a sua dizimação, fuga provocada pela inquisição e a afirmação além-fronteiras\".
A apresentação da obra \"assume-se como um ponto de partida para debater questões relacionadas com o turismo cultural e religioso no concelho e região\", até porque, adianta a autarquia, \"este lançamento pode ser entendido como uma oportunidade para começar a trabalhar as bases da criação de uma rota dos Judeus em Trás -- os -- Montes\".
\"Nós não serenos o centro mais importante, mas podemos contribuir para essa rota\", defendeu Berta Nunes.
Segundo contou à Lusa, na aldeia ainda hoje há uma zona a que chamam bairro dos judeus ou bairro novo\".
Recuperar a memória e as tradições para que Sambade possa atrair turistas é o propósito das entidades locais.
Para esse fim foram também preparados dois projetos que aguardam financiamento comunitário para a transformação da antiga escola primária em museu rural e da Casa do Povo em centro de recursos tecnológicos.
O investimento previsto para transformar Sambade numa \"aldeia tecnológica e turística\" é de 350 mil euros e visa \"promover a dinamização turística e cultural, através do recurso às novas tecnologias e valorização das suas gentes, história e tradições\".