Quando a Aerocondor divulgava em França as ligações aéreas Bragança – Agen – Paris, na semana passada, foi surpreendida com uma notícia do jornal «Le Figaro», que incluía a companhia portuguesa numa lista das transportadoras «a evitar», por alegada «falta de segurança».
O texto levou a Aerocondor a processar o periódico e o jornalista, causou a “indignação” da comunidade lusa em Paris - que se solidarizou com a companhia - e levou à intervenção do Governo português.
Uma notícia publicada no dia 30 de Agosto pelo jornal “Le Figaro”, que apontava Portugal como “um país a evitar” no que toca a ligações aéreas, por alegada “falta de segurança”, tendo em conta uma falha num motor de um avião da Aerocondor, em Janeiro passado, provocou uma espécie de “terramoto” nas relações luso-francesas.
O artigo, assinado pelo jornalista Thierry Vigoureux, incluía Portugal numa lista da qual faziam parte “países do terceiro mundo” como o Botswana, o Mali, o Burkina Faso, o Cambodja, o Senegal, entre outros. E caiu que nem uma “bomba” junto das autoridades portuguesas, da Aerocondor e da comunidade portuguesa radicada em França. De tal modo que a Embaixada de Portugal em Paris pediu esclarecimentos ao jornal, a Aerocondor já accionou um processo judicial contra o periódico e o autor do texto, pedindo também uma indemnização pelos “danos causados”, e, deveras “indignada”, a Associação Cultural e Recreativa de Santo Antoine (entidade lusa sedeada na capital francesa), já se disponibilizou para, juntamente com as cerca de 800 agremiações de portugueses em França, ser parte activa nesse processo em tribunal, para “defender Portugal”.
Falha num motor
O director comercial da Aerocondor, Fernando Lopes, assegurou ao Semanário TRANSMONTANO que a lista do “Le Fígaro” “não corresponde à verdade” e que a lista oficial da aviação francesa aponta a empresa portuguesa como uma “companhia credível, certificada e autorizada para efectuar voos sem restrições”. O responsável assume que houve uma “falha técnica” durante o voo Agen – Paris, a 13 de Janeiro, mas garante que “a viagem decorreu com normalidade e não houve qualquer problema na aterragem. Nenhum dos passageiros apresentou reclamação e o motor foi substituído”. Além disso, acrescenta, o avião em causa, um ART – 42 320, tinha matrícula lituana e foi alugado à empresa dinamarquesa DAT, sendo a Aerocondor “responsável apenas pela parte comercial”.
Quanto aos motivos que terão levado à inclusão da companhia portuguesa na lista do “Le Figaro”, Fernando Lopes revelou que a Aerocondor “está a sofrer uma pressão, devido a um certo proteccionismo, para não lhe chamar chauvinismo e xenofobia”, em que a transportadora é acusada de “estar a tirar o trabalho a franceses”. Uma acusação que o responsável diz “não fazer sentido”, já que “50 por cento da tripulação é francesa, com contratos e descontos para a Segurança Social, e a restante é que é portuguesa”.
“Com a abertura do mercado europeu, as companhias francesas sentiram a entrada de muitos operadores, que agora voam em França, como é o caso da Aerocondor”, afirmou ainda Fernando Lopes, concluindo que “a França teve mais acidentes aéreos num ano do que Portugal em 25” e que “esta é uma época conturbada para a aviação francesa”.
Comunidade lusa solidária com Portugal
“Indignação” e “um ressentimento muito grande”, por causa de “um ataque quase xenófobo que atingiu a moral dos portugueses residentes em França”. Foi assim que Abílio Cruz, presidente da Associação Cultural e Recreativa de Santo Antoine (uma agremiação lusa sedeada em Paris) e vereador na Câmara Municipal de Carbeil-Essonnes, transmitiu ao Semanário TRANSMONTANO a reacção dos portugueses a residir em França ao artigo do “Le Figaro”.
“Conhecendo as companhias portuguesas, a trabalhar no mundo inteiro, a sua dinâmica e a assistência muito perfeita dada aos seus aviões, além da manutenção de aviões estrangeiros de grandes companhias que é feita nas oficinas portuguesas, é inaceitável classificar Portugal como país a evitar, no meio de companhias do terceiro mundo”, afirmou Abílio Cruz, revelando que a associação lusa a que preside vai solidarizar-se com a Aerocondor e com o processo judicial interposto pela transportadora contra o jornal e o jornalista franceses, para “defender Portugal”. Para isso, aquela associação pondera unir-se às cerca de 800 agremiações de portugueses em França, de modo a acompanharem o processo em conjunto.
“Os lusodescendentes não podem aceitar que Portugal seja tratado desta maneira. É um ataque muito expressivo e contínuo, desde que a Aerocondor ganhou o concurso de exploração da linha aérea em França. Revela proteccionismo e é uma tentativa de desacreditar Portugal e a Aerocondor”, acrescentou o dirigente.
Integração lusa
Uma atitude que, nas palavras de Abílio Cruz, contrasta com o que se passa noutros campos da sociedade francesa, onde os portugueses estão bem integrados. “Grande parte dos emigrantes transmontanos vive em Paris e vive bem, confortavelmente. Há casos de sucesso na vida e de plena integração, na área da construção civil, do transporte de doentes (ambulâncias), da restauração, funerárias, muitos deles estabelecidos por conta própria”, explica, concluindo que, “se hoje já há portugueses em lugares muito distintos da sociedade francesa, não há razões para que não haja nos céus de França um avião e uma companhia de origem portuguesa”.
Confrontado com o aparecimento deste problema durante uma acção de cinco dias de promoção, em França, de Trás-os-Montes e dos voos da Aerocondor neste país, o presidente da Região de Turismo do Nordeste Transmontano, António Afonso, considerou que “o incidente não iria afectar nem prejudicar o sucesso da iniciativa”. “É uma tentativa da imprensa francesa de desviar desta rota uma companhia portuguesa. Mas estamos a constatar que há uma grande receptividade à nossa presença e ao modo como estamos a divulgar as nossas potencialidades”, concluiu.