A comunidade está a mobilizar-se para ajudar a reconstruir a casa onde vivia Franquelim Alves, 52 anos, e que foi destruída pelo fogo que, na semana passada, atingiu a aldeia de Zimão, em Vila Pouca de Aguiar.
João Teixeira, do conselho diretivo dos baldios de Zimão, disse hoje à agência Lusa que foi aberta uma conta bancária para recolher donativos, que vai ser feito um peditório porta à porta pelas aldeias da freguesia de Telões, onde está inserida Zimão, e estão também a ser pedidos materiais para ajudar na reconstrução da casa de Franquelim, que está agora alojado em casa de uma irmã.
“Para reconstruirmos o sítio onde ele nasceu e o sítio onde ele morava. Foi uma tragédia o que aconteceu, ele andava a ajudar a apagar o incêndio e a casa dele a arder”, referiu.
O concelho de Vila Pouca de Aguiar foi atingido por quatro fogos, que deflagraram ao longo do dia de 16 de setembro e queimaram cerca de 10 mil hectares até serem dados como extintos na quinta-feira à noite.
O fogo que começou na Vreia de Jales desceu a encosta e chegou à aldeia de Zimão na noite de segunda-feira. Os mais idosos foram retirados da aldeia por precaução e para trás, segundo João Teixeira, ficou um rasto de destruição: ardeu uma casa de habitação, um casal perdeu 300 rolos de feno de alimento para os animais e um outro senhor perdeu o armazém onde guardava a lenha.
Referiu ainda que a envolvente da aldeia estava limpa, num perímetro de 200 metros.
Segundo descreveu, andava a arder o monte e as projeções arrastadas pelo vento forte levaram o fogo para dentro da aldeia, para uma casa não habitada de onde passou, depois, para a casa de Franquelim, que ficou apenas com a roupa que trazia vestida.
“Quando lá chegaram já não havia hipótese de nada”, contou João Teixeira.
As chamas na aldeia foram combatidas pelos populares que contaram, depois, com a ajuda dos bombeiros e de militares da GNR.
João Teixeira teme que os processos burocráticos e demorados atrasem por demasiado tempo o apoio financeiro para a realização da obra necessária, pelo que disse que a comunidade resolveu unir-se para ajudar o vizinho.
“Se ele estiver à espera das ajudas que vêm de lá de baixo é complicado, e isso está mal porque há coisas prioritárias que deviam ser feitas de imediato. Há pessoas empenhadas em resolver este assunto, mas tem que ser ontem”, considerou.
Na página “Amigos de Zimão”, nas redes sociais, pode ler-se numa publicação: “É hora de arregaçar as mangas e ir à luta, vamos todos ajudar o Franquelim. Quem puder ajudar com bens ou financeiramente o iban é PT50 003509000002981390072”.
A Câmara de Vila Pouca de Aguiar está no terreno a fazer um levantamento dos prejuízos causados pelos fogos, a equipa municipal de ação social já está a acompanhar Franquelim Alves, e a Junta de Telões está também empenhada em ajudar.
O presidente da Junta de Freguesia de Telões, Luís Sousa, adiantou que já foi doada roupa e outros bens ao homem desalojado e que um lar lhe vai fornecer alimentação.
“Estamos a fazer tudo o que pudermos por ele e também já se disponibilizaram a fazer um evento solidário para angariação de fundos. A comunidade está-se a mobilizar”, realçou.
A presidente da câmara, Ana Rita Dias, referiu que, na segunda-feira, esteve uma equipa da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) para fazer a avaliação e uma estimativa dos prejuízos.
“Para haver aqui depois, pensamos nós, uma comparticipação para se conseguir reerguer a casa do senhor”, afirmou a autarca, que destacou também a campanha de solidariedade que já está no terreno.
Um balanço provisório da autarquia aponta para 10 mil hectares de área ardida neste concelho do distrito de Vila Real, cinco casas ardidas (um permanente, um usada e três devolutas), três armazéns agrícolas, um armazém industrial, depósitos de água, e várias culturas agrícolas atingidas (soutos, avelaneiras, vinhas e olivais).
Nove pessoas morreram e mais de 170 ficaram feridas em consequência dos incêndios que atingiram na passada semana sobretudo as regiões Norte e Centro de Portugal.
A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil contabilizou oficialmente cinco mortos nos fogos.
Os incêndios florestais consumiram, entre os dias 15 e 20 de setembro, cerca de 135.000 hectares, totalizando este ano a área ardida em Portugal quase 147.000 hectares, a terceira maior da década, segundo o sistema europeu Copernicus.