O coordenador da secção da Suíça do Conselho das Comunidades Portugueses, Manuel Beja, manifestou-se «profundamente chocado» com a decisão da maioria da população suíça, que hoje rejeitou alterações à lei da naturalização.
\"Estou bastante chocado com esta decisão do povo suíço. Trata- se de um resultado ainda pior do que foi há 10 anos relativamente ao direito da nacionalidade e dos esforços da terceira geração em obter o passaporte suíço\", afirmou.
\"Estava perfeitamente convencido que à terceira vez que este referendo ia para discussão, seria aprovado\", afirmou, considerando o resultado uma \"injustiça enorme\".
Os eleitores suíços rejeitaram hoje a facilitação do processo de naturalização de imigrantes de segunda e terceira geração depois de uma intensa campanha nas vésperas do voto, que diversos partidos e organização denunciaram como racista e xenófoba.
Cinquenta e dois por cento dos eleitores suíços rejeitaram uma primeira proposta de legislação que dava cidadania automática a estrangeiros de terceira geração nascidos na Suíça, isto é filhos de pessoas nascidas no país ou netos de imigrantes residentes na Suíça há muito.
Uma segunda proposta, que pretendia facilitar o acesso à cidadania para a segunda geração, foi rejeitada por uma maioria ainda maior: 57 por cento.
Manuel Beja garante que o +não+ afectará tanto a comunidade portuguesa como qualquer outra comunidade imigrante na Suíça, referindo que milhares de jovens já nascidos no país continuam a ter dificuldades de acesso a formação e a empregos, em parte por causa disso.
\"Todos os que venham a nascer ou já nasceram aqui serão afectados por isso. No futuro imediato, continuam a ter dificuldades no acesso à aprendizagem e ao emprego. Ainda que não os rejeitem darão sempre preferências a quem tem passaporte suíço\", sustentou.
\"São pessoas que têm passaporte do país onde não exercem as suas actividades de cidadão (Portugal) e que exercem as suas actividades de cidadãos num país onde não têm passaporte (Suíça)\", afirmou.
Especialmente negativo, na opinião do conselheiro português, é o facto de o +não+ ser apoiado por muitos imigrantes, inclusive portugueses, que entretanto já adquiriram a cidadania suíça.
\"É bem possível que hoje haja imigrantes com passaporte suíço, inclusive portugueses, que tenham essa postura. São posições xenófobas e racistas contra cidadãos e jovens de outros países, que tiveram oportunidades que querem negar a outros\", sustentou.
Ambas as propostas hoje referendadas tinham já sido aprovadas no Parlamento, sendo levadas a referendo por pressão do único partido contra as iniciativas, o Partido Popular Suíço (UDC), da ala direita mais conservadora.
Apoiantes da mudança acusam a UDC de promover uma campanha racista e xenófoba contra a naturalização facilitada, promovendo publicidade anti-estrangeira quer na imprensa quer em folhetos distribuídos aos eleitores.
O partido escolheu uma imagem de mãos pretas e castanhas- escuras a tentar agarrar um passaporte suíço, sendo ainda acusado de estar na origem de um folheto distribuído esta semana pelas caixas de correio do país que afirmava que, se a lei fosse alterada, em 2040 a maioria da população seria muçulmana.