A construção do miradouro das Fisgas de Ermelo no Parque Natural do Alvão (PNA), em Mondim de Basto, está a ser criticada por alguns populares que consideram a obra megalómana, desnecessária e com impacto na paisagem.
As Fisgas de Ermelo são umas quedas de água localizadas no rio Olo, que têm 400 metros de desnível e são consideradas uma das maiores da Península Ibérica.
Para melhorar as condições de visita no miradouro natural das Fisgas de Ermelo, o município de Mondim de Basto, distrito de Vila Real, avançou com a construção de um acesso pedonal e um passadiço, no entanto, de momento apenas são visíveis no local oito pilares e uma plataforma inicial de cimento que estão a ser alvo de criticas por parte de alguns mondinenses.
O projeto foi aprovado pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), que gere o PNA e que explicou à agência Lusa que emitiu um parecer final sobre o projeto em 2023 que contempla “a utilização de estruturas de suporte do passadiço, em betão, pousadas sobre o afloramento rochoso, sem qualquer tipo de fixação, de forma a garantir a sua preservação”.
“A primeira vez que eu vi esta obra fiquei em absoluto choque (…) Não precisávamos de fazer aqui um miradouro artificial”, afirmou Rui Pereira, 48 anos e biólogo de formação que reside no Porto e é natural do concelho, onde regressa regularmente.
No local há um miradouro natural, inserido num parque natural, pelo que, na sua opinião, qualquer intervenção devia “ser minimalista”.
“Estão a fazer aqui uma coisa que é megalómana, mastodôntica, que não faz qualquer sentido. É totalmente descontextualizada”, afirmou, apontando ainda ao muro de granito com 2,5 metros de altura construído num local onde a pedra característica é o xisto.
Rui Pereira disse ter analisado os planos de ordenamento e de cogestão do PNA, concluindo que a prioridade deste parque “não é o turismo, mas preservar a natureza e a paisagem”.
Maria da Conceição tem 72 anos, vive perto das fisgas e ao longo dos anos foi assistindo ao aumento gradual de turistas neste local que percorre desde criança e confessou que a obra não lhe “agrada nada”. “Isto não tem lógica nenhuma”, referiu.
Habituado a percorrer a serra está também o pastor António Martins, 65 anos, que tem um rebanho de cerca de 220 cabras. “Acho que este trabalho não é bonito, isso foi um dinheiro mal gasto”, referiu.
O jurista Ricardo Lages, 66 anos, foi para o Brasil com oito anos, mas regressa regulamente a Mondim e disse que conhece “muito bem o concelho”, e que quando viu os pilares de cimento sentiu “muita tristeza”, considerando que estes vão provocar um “dano permanente”.
Na sua opinião, a “visão é impactante”, a obra é “um absurdo, destrutiva e desnecessária”, que “não vai melhorar em nada a segurança”, e que as pessoas se vão continuar a aproximar “pelos penedos” .
António Parente, reformado com 73 anos, disse que a obra está a “causar um grande impacto”.
“Se isto é um parque natural o que se fizer aqui tem que ser a bem da natureza, como é que permitem fazer uma coisa destas? E é por isso que eu fico espantado”, salientou, classificando os pilares “como mamarrachos” e "sem qualquer interesse".
O presidente da Câmara de Mondim de Basto, Bruno Ferreira, afirmou que a obra “cumpre obviamente” com o projeto aprovado e licenciado, explicando ainda que os pilares de betão vão ser revestidos de xisto.
“Não podemos avaliar as obras somente com o desenvolvimento na sua construção, mas sim naquilo que é a sua totalidade e, neste sentido, ela cumpre aquilo que foi aprovado”, frisou.
O autarca disse que a plataforma a instalar em cima dos pilares está a ser construída em estaleiro e que espera, para breve, a conclusão da intervenção, que acredita que vai fazer a diferença para quem visitar as fisgas, nomeadamente para pessoas com mobilizada reduzida.
O ICNF explicou que a proposta apresentada para o acesso pedonal ao miradouro contempla a instalação de uma plataforma amovível, sem elementos de fixação ao solo, com proteção do afloramento rochoso por borracha neoprene, permitindo, por um lado, ordenar e orientar a visitação das pessoas através do passadiço e miradouro, minimizando o impacto do pisoteio na área envolvente, contribuindo simultaneamente para o aumento da segurança das pessoas e garantindo também o acesso ao miradouro por pessoas com mobilidade condicionada.
Até ao momento, este instituto não recebeu reclamações de entidades oficiais ou de particulares relativas a este projeto, estando a ser efetuadas as diligências necessárias para garantir o cumprimento das condições previamente estabelecidas.