Ortopedia, Dermatologia, Urologia e Ginecologia são as especialidades levadas ao Interior.
Aproximar os cuidados de saúde de quem deles mais precisa no Interior do país. Foi este o objectivo que levou sete médicos especialistas do Porto a realizar consultas gratuitas em concelhos do distrito de Bragança distantes dos hospitais.
Ao longo da manhã de ontem, os especialistas em Ortopedia, Dermatologia, Urologia e Ginecologia atenderam, no Centro de Saúde de Vinhais, perto de duas centenas de utentes seleccionados previamente pelos médicos de família. São maioritariamente idosos, alguns dos quais nunca antes tinham tido oportunidade de realizar consultas de especialidade e se o fizeram foram obrigados a percorrer centenas de quilómetros até aos hospitais fora da região. Durante a tarde, os clínicos fizeram as consultas no lar de idosos de Vinhais para evitar que os seniores se deslocassem.
Carlos Noronha, ortopedista, não promete os milagres por que muitos anseiam - \"esses só mesmo em Fátima\", frisou -, mas garante o empenho dos médicos em ajudar as populações distantes das grandes cidades. A presença de médicos do Porto é um conforto para as populações do Interior, que assim se sentem menos desamparadas e abandonadas, com a esperança que os especialistas lhes levem tranquilidade.
Esta é uma experiência de serviço social por parte de médicos, que não buscam benefícios materiais, pois não cobram o serviço. Deslocaram-se para Trás-os-Montes na passada quarta-feira, depois de um dia de consultas nos seus locais de trabalho. Na sexta-feira estiveram todo o dia no centro de saúde de Miranda do Douro, onde também consultaram algumas centenas de pessoas. Nenhum deles precisaria de passar o domingo a trabalhar, mas fazem-no voluntariamente e são unânimes quando dizem que é uma vivência \"enriquecedora e única\", frisa Carlos Noronha.
Não é raro depararem-se com pessoas de 80 anos que nunca consultaram um ortopedista, apesar de apresentarem uma quadro clínico que indica que deveriam ter sido submetidos a cirurgias há anos.
A Dermatologia foi uma das especialidades com maior procura devido à carência de médicos na região. São também muitos os que apresentem lesões extremamente graves e tumores de malignidade elevada, que quando detectados numa fase inicial podem ser debelados.
Apesar de terem o rosto e as mãos curtidos pelo sol, como Amândio Pires, 70 anos, estes homens e mulheres, quase todos de olhos e pele clara, aceitam as maleitas como fruto da idade, desconhecem a sua gravidade e a maioria nem sabe o nome dos muitos medicamentos que toma. Olham para os médicos \"de fora\" como a última esperança de ganhar a saúde que perderam em anos de labuta diária, debaixo do sol, sem saberem o que é um protector solar e sem pensarem que o sol deixa marcas irreversíveis, sem informação ou dinheiro para procurarem especialistas.
\"Quase todas as lesões são provocadas pelo sol, pois são muito brancos. Faz-se terapia nas lesões, pois se não forem tratadas acabarão por ter cancro de pele\", constatou Fernanda Colaço, dermatologista.
Os médicos fazem a despistagem das doenças e encaminham os doentes para os hospitais, \"sempre que seja necessário um cuidado mais apertado\", acrescentou Carlos Noronha.
