Henrique Vergueiro tem 67 anos e uma vida cheia de \"estórias\" para contar. Aos 12 anos começou a trabalhar como barbeiro com o pai, em Lamas, no tempo em que as contas com os clientes se faziam anualmente através de uma avença, que podia ser de uma ração de pão (cereal) no caso de ser só um dos elementos do agregado familiar a fazer a barba. A avença incluía o direito dos filhos, independentemente do seu número, aos cortes de cabelo que precisassem, mas quando eles crescessem a avença passava para mais uma ração de cereal por cada um dos que passasse a fazer a barba.

Aos 18 anos foi para o Porto para se aperfeiçoar na profissão. Passados dois anos teve de ir para a tropa, regressando depois à aldeia para voltar a trabalhar com o pai. Em 1962 decidiu entrar para a Junta Autónoma de Estradas, como cantoneiro, mas continuou a trabalhar na profissão de origem aos sábados e domingos. Foi então que começou a fazer contas, traçando um risco por cada barba e corte de cabelo que fazia, para apurar por quanto ficava cada um dos trabalhos feitos aos clientes que estavam avençados. Chegou à conclusão que o seu trabalho ficava por um valor simbólico. Decidiu então começar a cobrar 1$50 por cada barba e 2$50 por cada corte de cabelo.

Foi por essa época, há cerca de 20 anos que surgiu o primeiro surto de emigração e a consequente falta de clientes. Como o movimento começou a diminuir, tal como nas outras aldeias vizinhas, Henrique Vergueiro decidiu desistir do exercício da profissão de barbeiro. De então para cá só de três em três meses é que faz um corte de cabelo: aproveita a ida a Podence para cortar o cabelo ao seu amigo Carolino, o qual, por sua vez, depois de aliviado da \"trunfa\", retribui o acto ao colega Vergueiro.

Na aldeia diz-se que Henrique é um repositório de \"estórias\", mas só se dispÎs a contar ao Semanário TRANSMONTANO uma que se passou na barbearia do pai. Na época havia em Lamas um pastor chamado Israel, que para cada provocação tinha logo resposta na ponta da língua. Por isso era conhecido como tagarela. Um dia, quando estava a fazer-lhe a barba, como o dito não deixava de falar, o barbeiro disse-lhe para se calar, senão ao passar-lhe a navalha cortava-lhe o queixo. O palrador não se ficou sem resposta e contrapÎs: \"se não posso falar com o de baixo, falo com o de cima\". O caso provocou imediatamente a risada dos que estavam na barbearia.



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