Os transportes públicos de Vila Real, entregues à Corgobus, não garantem, na totalidade, o acesso a utentes deficientes, designadamente os que se deslocam em cadeira de rodas.

Márcio Martins, de 23 anos, é um desses cidadãos e, apesar de \\"ter escrito no livro de reclamações da empresa\\" e de se ter \\"queixado à Câmara de Vila Real, não obteve qualquer resposta às suas solicitações.

Em causa está a circulação de autocarros que não possuem rampa de acesso nem lugares destinados a deficientes. O estudante de Engenharia da Reabilitação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), natural de Amarante, tem \\"muitas vezes de pedir boleia aos amigos, para regressar à residência de estudantes\\", referiu.

O investigador da UTAD, Francisco Godinho, apoia o aluno e diz que \\"a empresa tem a cumplicidade da Câmara, que está a permitir que seja contornada a legislação\\".

João Queirós, administrador da Corgobus, recorda que \\"ainda recentemente a UTAD apresentou um estudo sobre os transportes públicos com resultados muito positivos\\", e garante que \\"as viaturas têm todas a aprovação do Instituto de Mobilidade e Transportes Terrestres e que o contrato existente com a autarquia está a ser integralmente cumprido\\". O responsável acrescenta, no entanto, que se trata de uma \\"situação temporária, que estará resolvida em Junho, com a chegada de novos autocarros, que demoram algum tempo a ser construídos\\".

João Queirós diz que a empresa já falou com Márcio, \\"mas tendo em conta os meios de que dispomos e o facto de os seus horários coincidirem com os da maioria dos alunos da UTAD, para garantirmos lugar para ele, temos de deixar nas paragens outras 50 pessoas, porque temos de usar um autocarro mais pequeno\\".

O presidente da Câmara Municipal de Vila Real, Manuel Martins, considera \\"estranhas estas queixas, quando 10 dos 13 autocarros têm acesso para deficientes. E desafia Francisco Godinho a efectuar uma avaliação dos transportes públicos de outras cidades para comparar os serviços\\". O autarca recusa, terminantemente, a acusação de \\"cumplicidade\\", afirmando que \\"a cumplicidade da autarquia é apenas com os cidadãos\\".

Decreto-lei tem quase quatro anos

A empresa de transportes públicos de Vila Real, Corgobus, \"não está a cumprir a lei de acessibilidade às pessoas com mobilidade reduzida, conforme estipula o decreto-lei n.º 58/2004, bem como com o caderno de encargos do concurso público internacional dos Transportes Urbanos de Vila Real\". Quem o diz é Francisco Godinho, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e responsável pela primeira licenciatura europeia em Engenharia da Reabilitação e Acessibilidade Humanas, na sequência \"de várias queixas\". O coordenador do CERTIC - Centro de Engenharias de Reabilitação em Tecnologias da Informação e Comunicação vai ele mesmo \"proceder a uma avaliação dos percursos, do interior dos autocarros, das paragens, da informação e do site da empresa, para verificar se a informação sobre horários está acessível a todas as pessoas\". Aquele investigador vai ainda, \"analisar as condições de segurança, porque parece-me que os mesmos circulam demasiado rápido\", afirmou.



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