As câmaras de Vila Real, Carregal do Sal, Ourém e Setúbal são alvos da Polícia Judiciária num inquérito por suspeitas de corrupção em licenciamentos de superfícies comerciais. As autarquias foram alvo de busca, tal como o ex-autarca de Espinho, José Mota.
Os responsáveis políticos foram visitados por inspectores da PJ do Porto, tendo sido, alguns deles, acordados pelas 7,30 horas da manhã. Em comum, o facto de as edilidades a que estão ligados terem tratado processos de licenciamento relacionados com o grupo Jerónimo Martins, do qual faz parte a cadeia de supermercados \"Pingo Doce\", entre outras marcas, bem como outros estabelecimentos, como bombas de abastecimento de combustível.
Presidida por Manuel Martins, do PSD, a Câmara de Vila Real foi buscada pela PJ, que apreendeu processos de licenciamento de obras particulares. No caso de Carregal do Sal (distrito de Viseu), o seu presidente, Atílio dos Santos Nunes, revelou inclusivamente, ao JN, ter sido levantado da cama pelos inspectores.
\"Viram toda a minha casa mas acabaram por nada levar. Depois, foram buscar processos às instalações da Câmara. Estou absolutamente tranquilo, não tenho preocupação alguma\", disse o autarca, que também licenciou a estrutura local do \"Pingo Doce\".
As mesmas razões levaram a Polícia Judiciária também à Câmara de Setúbal, no mesmo dia (quarta-feira) em que foi efectuada uma busca à casa do ex-presidente da Câmara de Espinho, José Mota. Investigada está a ser, também, uma junta de freguesia do Concelho de Ourém, em Fátima, completando-se assim o leque de seis autarquias sob suspeita. Na Câmara de Ourém, o vice-presidente confirmou a diligência policial e a apreensão de dois processos de obras. Em concreto, o Pingo Doce de Fátima.
No inquérito são investigadas suspeitas de corrupção e participação económica em negócio, só que ainda não há quaisquer arguidos constituídos. No total, foram efectuadas cerca de 20 buscas, incluindo residências particulares, instalações públicas, bem como à empresa Jerónimo Martins.
Prospecção de terrenos
Em declarações ao JN desde o Brasil, o socialista agora governador civil de Aveiro disse nada temer quanto à investigação judicial e revelou terem-lhe sido apreendidos três cheques, que não tinham sido levantados nos bancos \"por não terem cobertura\".
Tal como noticiou ontem o JN, o elo comum entre os envolvidos neste caso é pelo menos um indivíduo, ligado a uma empresa, com contactos no mundo autárquico e se dedica à prospecção de terrenos para instalação de superfícies comerciais. O inquérito começou por Espinho, mas alargou-se a outras localidades, por força da ligação daquele elemento.
O JN sabe que os inspectores da PJ efectuaram também uma busca a José Aleixo, ex-assessor de José Mota, em Espinho, e presidente da Associação Comercial daquela cidade. As suspeitas sobre este elemento incidem em especial sobre a actividade que exerceu junto do agora governador civil de Aveiro.
A empresa \"Jerónimo Martins\" confirmou, à agência Lusa, que a sede foi alvo de buscas da PJ. \"O grupo desconhece o âmbito preciso destas investigações, mas está a colaborar activamente com as autoridades oficiais, fornecendo todos os elementos necessários\".
O JN tentou contactar responsáveis da Câmara de Vila Real, mas sem sucesso.