População residente e emigrantes de Covas do Barroso uniram-se numa associação que quer travar o projeto de uma mina de lítio a céu aberto que está previsto para esta freguesia do concelho de Boticas.
Jessica da Cruz, de 27 anos e filha de emigrantes, disse hoje à agência Lusa que a Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB) está a ser criada para alertar e lutar contra a mina do Barroso.
No terreno estão a ser feitas prospeções por parte da Slipstream Resources, sediada em Braga e subsidiária da empresa australiana Savannah Resources.
Jessica da Cruz queixou-se da falta de informação em relação ao projeto e referiu que as prospeções "continuam a realizar-se em terrenos particulares e nos baldios" e "aproveitando o desconhecimento dos residentes".
Foi para informar, reivindicar mais informação e tentar travar o projeto que foi também lançada uma petição online e criada uma página na rede social Facebook.
A petição "Contra a mina de lítio em Covas do Barroso" contabiliza hoje 2.793 assinaturas e tem como objetivo atingir as 5.000.
A responsável disse que o objetivo é levar o abaixo-assinado a debate na Assembleia da República.
A mina de lítio vai estender-se por uma área que foi distinguida recentemente como Património Agrícola Mundial e as suas futuras instalações implementar-se-ão "demasiadamente perto das casas dos residentes de Covas do Barroso".
Jessica da Cruz referiu que a "área de prospeção concedida vai aumentando, tal como as preocupações da população, que ficou totalmente aquém das decisões e que não beneficiou das informações necessárias sobre o projeto e os riscos para a sua saúde, para o ambiente e para os recursos naturais utilizados por todos".
A associação quer lutar pela "qualidade de vida dos residentes de Covas do Barroso, a continuação da existência do único Património Agrícola Mundial português e o respeito pelos ecossistemas em que a mina se irá inserir".
Os habitantes desta freguesia, que junta as aldeias de Covas do Barroso, Romaínho e Muro, temem que, com a exploração da mina, se verifique "uma destruição da paisagem e do património arquitetónico, devido às explosões, do habitat de espécies ameaçadas, como o lobo ibérico ou o mexilhão-de-rio, a criação de uma cratera de centenas de metros de profundidade na rocha que nunca poderá ser recuperada".
Temem ainda a "poluição das águas dos rios para o tratamento do lítio, a secagem e poluição do solo, a poluição do ar devido composto de sílica presente na rocha, a deterioração da saúde e a desvalorização da região agrícola".
O PCP, através do eurodeputado Miguel Viegas, questionou recentemente a Comissão Europeia sobre esta mina no Barroso.
Miguel Viegas disse que em causa "estão 66 perfurações realizadas numa área com mais de 600 hectares onde estará já identificada uma zona de mineralização a céu aberto com mais de 400 metros de extensão e 150 metros de profundidade".
O eurodeputado perguntou à Comissão Europeia "se a Slipstream Resources Portugal Unipessoal, ou a casa mãe Savannah, receberam ou solicitaram algum apoio da União Europeia e se foram respeitadas todas as normas em matéria de estudo de impacto ambiental".
A empresa australiana já informou, através de relatórios aos investidores, que a mina irá possuir uma capacidade para processar anualmente entre 1 a 1,5 milhões de toneladas, durante 13 a 23 anos, e que tem como objetivo iniciar a exploração no primeiro trimestre de 2020.
Em breve deverá ser apresentado o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) com vista à exploração do lítio em Covas do Barroso.