Quando em 1992, José Santos comprou a da Casa da Comenda estava longe de imaginar os problemas que iria ter para alargar o portal de entrada naquela propriedade, que possui no seu alto uma cruz de granito.

Segundo referiu José Santos, depois de recuperar o antigo convento da Ordem dos Templários transformando-o em armazém de vinificação de adega de vinhos, no qual investiu entre obras e equipamento 30 mil contos, pretendeu alargar o portal de entrada para possibilitar a entrada de camiões na propriedade.

Em 1998, depois de obter uma licença da Câmara da Régua para "compor" o portal, o proprietário procedeu às obras de alargamento de 40 centímetros, e, segundo referiu, era sua intenção recolocar a cruz no alto do portal reconstruído.

Mas no mesmo dia em que derrubou parte do portal para o seu alargamento, encontrou-o de novo reconstruído, mas com menos cinco centímetros. Tal "habilidade" foi executada por homens ao serviço do presidente da junta de Poiares.

Em sequência da "abusiva" reconstrução, José Santos colocou em tribunal 15 pessoas da aldeia, alegando "invasão de propriedade privada". E Heitor Varandas, presidente da Junta de Poiares, encabeça a lista dos arguidos.

O autarca disse ao DTOM que a cruz e o portal fazem parte do património e histórico e cultural da freguesia e que, por isso, "o povo da localidade não pode permitir que seja destruído".

Segundo Heitor Varandas, a cruz pertenceu à Ordem dos Templários e transitou para a Ordem de Malta, quando aquela foi extinta, em 1311.

Por isso, "independentemente de quem seja o proprietário, aquele monumento constitui um património histórico e cultural de toda a comunidade, que não deve ser destruído ou alterado", sublinhou.

E mais, o autarca garante que "o povo desta freguesia lutará com todas as suas forças para preservar este património".

Heitor Varandas referiu ainda que o derrube do portal foi indevido porque José Santos apenas "possuía licença camarária para compor os telhados, armação, portal de entrada e lagares". "Por isso não poderia mexer ou alargar o portal de entrada", diz o autarca.

Quanto à queixa em tribunal, o presidente defende que no dia em que o portal foi reconstruído pela população não estava em Poiares embora admita que uma das máquinas utilizadas era sua e algumas das pessoas envolvidas eram seus empregados, pois segundo disse, "a minha empresa de construção dá emprego a muita gente da aldeia".

Heitor Varandas garantiu ainda que aquele acto não foi realizado apenas por meia dúzia de pessoas, mas sim "pela quase totalidade da população da aldeia que se uniu para defender o seu património".

A leitura da sentença vai decorrer no Tribunal da Régua no dia 3 de Julho, mas à porta fechada, dado que na última sessão a juíza responsável pelo processo teve de mandar evacuar a sala de audiência por causa dos distúrbios provocados pela população de Poiares.



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