O Museu da Terra de Miranda vai ser alvo de uma intervenção no valor global de 1,4 milhões euros, que foi apresentada hoje, numa altura em que a unidade museológica assinala os 40 anos de existência.
Situado no centro da cidade de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, o Museu Terra de Miranda (MTM) está instalado num edifício do século XVII, com manifestação de diversas fragilidades estruturais, a serem colmatadas com “esta intervenção de fundo”, a ter início no final do ano.
A diretora Regional de Cultura do Norte, Laura Castro, disse à agência Lusa que esta intervenção, anunciada no Dia Internacional dos Museus, conta com apoio do município de Miranda do Douro, que adquiriu um espaço contíguo ao MTM, para instalar novas unidades de apoio.
“O projeto de arquitetura foi elaborado pelos técnicos da Direção Regional de Cultural do Norte [DRCN]", numa intervenção a ser cofinanciada pelo Programa Operacional do Norte [Norte 2020], num montante de 800 mil euros, disse a diretora.
Segundo Laura Castro o MTM vai ser “completamente reformulado”, através de verbas do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
“Já no que concerne aos conteúdos digitais, serão financiados por fundos provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR] e também por fundos próprios da DRCN”, explicou a responsável.
Laura Castro disse que, dentro algum tempo, Miranda do Douro vai ter um museu completamente renovado, num espaço simbólico para a cultura do território da Terra de Miranda.
“É um momento muito importante porque este museu nunca teve numa intervenção de fundo ao nível da sua beneficiação, e agora vai surgir atualizado e renovado”, explicou a responsável pela Cultura no Norte.
As obras de beneficiação e ampliação do MTM, segundo a sua responsável, vêm marcar uma nova etapa da história do museu, “considerando o desafio de mudança que agora se coloca”.
Para a diretora do MTM, Celina Pinto, urgia atualizar este museu, atualizar o espaço e a narrativa dos discursos no sentido de acompanhar a atual evolução da museologia. "Há muito que aguardávamos por esta obra, e irá acontecer num momento especial para esta instituição, mais propriamente quando no próximo ano celebramos os 40 anos da criação do museu”.
“Em primeiro lugar este projeto vem proporcionar condições dignas ao funcionamento desta instituição museológica que se quer capaz de cumprir a sua missão museológica de conservação, salvaguarda, interpretação e comunicação do património cultural”, concretizou.
Por outro lado, e de acordo com a diretora, a intervenção vem possibilitar a criação de novos conteúdos museográficos, possibilitando a aproximação a uma nova museologia, mais contemporânea, mais sensitiva e mais interativa, “sentida” e partilhada num espaço de referência que ultrapassa a dimensão local, considerando que "este museu é detentor de um potencial antropológico/etnográfico incondicionalmente único no contexto nacional".
“Pretendemos, através de um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos anos - e que se prende com registos e levantamentos, ampliação e reconstituições das coleções, reforço de equipa, constituição de parcerias e redes de trabalho -, poder alavancar o desenvolvimento de um trabalho mais estruturado e sistemático”, enfatizou.
Para a diretora do museu, este projeto de reabilitação física, além de ajudar a suprir as necessidades e fragilidades do MTM, no que se refere à sua estrutura edificada, sublinha a importância, cada vez maior, da reabilitação do património numa perspetiva de promoção e coesão territorial, no sentido de combater e atenuar os desequilíbrios e assimetrias regionais.
“Em termos de discurso, o MTM reflete uma dimensão geográfica, um sentido de territorialidade, pelo qual está subjacente a leitura do seu próprio território, da sua paisagem e da sua história, da sua língua, dos seus modos de viver e da sua cultura”, observou a responsável.
Para a direção e para a tutela do MTM, a DRCN, as características desta tipologia de museu devem apresentar-se enquanto estrutura dinamizadora de ações culturais capazes de promover o desenvolvimento local.
O MTM está inserido na Rede Portuguesa de Museus e acolhe, além de peças arqueológicas de interesse, um acervo de cariz etnológico, testemunho social e cultural de uma região de forte identidade, inclusive marcada pela língua mirandesa (a segunda língua oficial de Portugal desde 1998), pelo que importa garantir a salvaguarda do imóvel e de todo o seu espólio, como frisam os responsáveis.
“Fortemente enraizado no tecido urbano de Miranda do Douro, o conjunto de dois edifícios que atualmente serve de abrigo à área expositiva e administrativa do museu, tem demonstrado, ao longo da última década, debilidades recorrentes da falta de investimento na sua preservação, não dignificando o seu contributo patrimonial”, indica a memória descritiva do projeto.
Aliada a essa realidade e cientes das atuais limitações do espaço, foram recentemente adquiridos, em parceria com a Câmara Municipal de Miranda do Douro, mais dois imóveis com o intuito de garantir a área necessária para a redefinição do programa expositivo, cumprimento dos requisitos regulamentares, e promoção de novas valências em articulação com as atuais exigências museológicas.
O projeto prevê a interligação dos quatro edifícios atribuindo-lhes um sentido programático e funcional claro.
No "Corpo Anterior", ficarão os serviços administrativos, área de reservas, espaços técnicos de controlo de infraestruturas e instalações sanitárias gerais e para pessoas de mobilidade reduzida.
O Corpo Central foi desenhado para receção, ao nível do piso do rés-do-chão, e para acolher exposições temporárias no piso superior.
O Corpo Principal e Corpo Lateral irão acolher a exposição permanente.
O projeto prevê igualmente a eficiência energética, procurando evitar custos elevados.
O MTM foi fundado em 1982 pelo etnógrafo, etnólogo e arqueólogo, especialista em museologia, António Maria Mourinho, que dirigiu a instituição até 1991.