A pequena Inês olhou encantada pela janela do comboio onde viajou pela primeira vez. O fumo da antiga máquina a carvão envolveu a paisagem do Douro e os gritos alegres das crianças juntaram-se ao apito da locomotiva a vapor que seguiu da Régua para o Tua.
«Nunca vi uma coisa tão bonita», afirmou à Agência Lusa Inês, de nove anos e residente em Vila Real.
A CP convidou cerca de 200 crianças de Vila Real e Peso da Régua para um baptismo ferroviário a bordo do comboio histórico da Linha do Douro.
A viagem a 30 quilómetros à hora percorreu os 46 quilómetros, que separam o Peso da Régua do Tua (concelho de Carrazeda de Ansiães), tendo como paisagem predominante o Douro Património Mundial da UNESCO.
A iniciativa realizada hoje pela CP antecede o início da campanha do comboio histórico do Douro, que começa sábado e se repetirá todas as semanas até Outubro.
Mal o comboio partiu da Estação da Régua as crianças correram para as janelas das antigas carruagens para conseguirem o melhor lugar para observarem a paisagem: o rio, as vinhas, os mortórios e as quintas.
Nem o fumo intenso que, de vez em quando, se soltava da locomotiva Henshel, fabricada na década de 20, incomodava os pequenos que, pouco depois, já estavam com as caras e as mãos sujas do carvão.
«Está a ser a minha viagem preferida até agora», salientou outra Inês, também de Vila Real.
Carolina, Carlota e Irene vestiram-se a rigor, com fardas e lenços brancos, para oferecerem aos restantes passageiros os tradicionais rebuçados da Régua, que as «rebuçadeiras» vendem diariamente em frente à estação.
António, com uma farda azul, lenço vermelho e chapéu, encarnou o papel de um pequeno maquinista da CP.
«Estou vestido de maquinista. Não é a primeira vez que ando de comboio, mas neste, a vapor, é a primeira vez. Estou a gostar muito», disse.
Gonçalo, também fardado a rigor, confessou que não sabe conduzir uma locomotiva mas sabe que esta anda a carvão.
Já Inês, da Régua, salientou que aquilo que mais gostou foi a «paisagem, estar com os amigos e a velocidade do comboio».
No final da viagem a opinião entre os jovens passageiros pareceu ser unânime: «foi muito bonito», gritaram alguns em uníssono.
«A relação das crianças com o comboio é mágica. E o que hoje está a acontecer é o encontro da magia do baptismo ferroviário com o encanto e o charme do comboio histórico», afirmou o porta-voz da CP, Bruno Martins.
O responsável referiu ainda tratar-se de uma iniciativa inédita.
A trabalhar há 18 anos como maquinista da CP, Francisco Silva, ainda está dividido entre conduzir uma máquina a vapor e as mais recentes.
«Esta máquina é mais trabalhosa e desgastante», afirmou.
Só para fazer a viagem entre a Régua e o Pinhão são precisas duas toneladas de carvão e reabastecer com três mil litros de água no Pinhão.
Em 2008 foram transportados 2.450 passageiros no comboio histórico a vapor.
Foto: Jorge Rego