A Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (ADRVT) manifestou hoje“descontentamento” e “cansaço” com o arrastar do processo de revitalização da linha do Tua e o plano de mobilidade para este território transmontano.
Num comunicado assinado pela presidente da Agência, a autarca de Mirandela Júlia Rodrigues, a agência faz hoje um ponto da situação, começando por indicar que as “obras na ferrovia estão concluídas, mas o processo ainda não está encerrado”.
O regresso do comboio aos cerca de 30 quilómetros, entre a Brunheda e Mirandela, que restam da centenária linha do Tua, tem sido sucessivamente adiado, apesar de já terem sido investidos 20 milhões de euros e estarem prontos a avançar barcos e comboio do operador turístico, o empresário Mário ferreira.
A Agência, constituída pelos municípios do Vale do Tua e pela EDP, reconhece que “tem sido um processo demasiado moroso, com enorme complexidade, com normas técnicas de uma exigência que têm feito com que o processo de revitalização de 30 quilómetros da linha do Tua, com fins turísticos, se venha arrastando há alguns anos”
“Percebendo que esta situação tem gerado natural descontentamento e até cansaço junto da população, do operador e da própria Agência, entendeu o direção da ADRVT emitir este comunicado para fazer um ponto da situação”, justifica.
Parte do comunicado é dirigida ao operador turístico, notando que o empresário “ao longo deste moroso e complexo processo revelou alguns momentos de questionamento sobre o progresso, que a ADRVT também tem”.
A Agência assegura que se “mantém toda a expectativa em relação ao cumprimento e implementação do Plano de Mobilidade do Vale do Tua, tal como foi comunicado ao território e às suas gentes” e anuncia que “vai em breve reunir novamente com o operador, para agilizar as questões finais”.
O comunicado faz um resumo do processo que começou com a construção da barragem de Foz Tua, em 2011, e descreve as responsabilidades de cada entidade envolvida, desde a agência, á CP- Comboios de Portugal e Infraestruturas de Portugal (IP).
“Neste momento a CP está em incumprimento com a ADRVT. Existe o compromisso firmado de esta entidade pagar à ADRVT o valor de 320 mil euros anuais, pela reabilitação e manutenção da linha, vence em janeiro deste ano o 6º ano de incumprimento, ascendendo o valor da dívida a 1,9 milhões de euros”, denuncia.
Contactada pela Lusa, a porta-voz da CP, Ana Portela, esclareceu por escrito que a empresa “tem colaborado com a ADRVT para o Plano de Mobilidade do Vale do Tua, em todas as vertentes que estão ao seu alcance”.
Relativamente aos montantes referidos, a CP indica que “a transferência de verbas para este projeto está dependente das tutelas governamentais”.
Neste projeto, a CP continua a financiar a mobilidade das populações locais, a IP mantém-se dona das infraestruturas e cabe a agência a gestão do Plano de Mobilidade, que foi a principal contrapartida pela construção da barragem e a única que ainda não está cumprida.
Em troca da submersão de quase 20 quilómetros de ferrovia, a EDP garantiu um fundo correspondente a três por cento da faturação anual da produção de energia e comprometeu-se a executar um plano de mobilidade que ficou definido com uma vertente turística, que inclui barcos na nova albufeira e um comboio turístico, mas também transporte ferroviário quotidiano para as populações do vale.
A EDP entregou 10 milhões de euros ao operador turístico para revitalizar a linha, mas foi a Agência que levou a cabo as obras que tem sido exigidas para a segurança e licenciamento da operação.
O arranque do comboio já foi anunciado e adiado várias vezes e no comunicado a Agência informa que “a Infraestruturas de Portugal (IP) já realizou a inspeção a esta última intervenção, sugerindo algumas correções na obra que já foram efetuadas”.
A Agência garante que se aguarda apenas “pela inspeção final por parte da IP”.
Dá conta ainda de que “está em fase final de negociação a cedência pela empresa “Metro de Mirandela” de duas automotoras para recuperação, que serão afetas ao processo de mobilidade”, para transporte da população.
Revela também que, “está ainda em fase de discussão a construção do PMO, que será o ponto de apoio operacional onde se instalam as oficinas para manutenção dos equipamentos envolvidos na operação de mobilidade”.
HFI // ACG Lusa, Foto: António Pereira