Várias dezenas de pessoas dos concelhos de Vimioso e Miranda do Douro, no Distrito de Bragança, foram enganadas por uma empresa privada que recebeu dinheiro para prestar formação na área da informática, mas não concluiu o curso.

Helena Marques não hesitou em pagar 90 contos para o filho Jacob aprender a trabalhar com os computadores, quando em Novembro um homem e uma mulher apareceram em Santulhão, uma localidade do concelho de Vimioso, a fazer contratos para um curso naquele local.
Também Máxima Alves pagou, em duas prestações, 70 contos e só não deu os restantes 20 contos porque em Março, depois de ter faltado uma semana ao curso, o filho José Pedro se deparou com o salão da junta de freguesia vazio.
Segundo alega, foi-lhe dito que o curso, que devia prolongar- se até Junho, tinha sido suspenso.
Com o mesmo cenário foram confrontados 62 formandos das localidades de Santulhão, Vilar Seco e Vimioso e de Sendim, Malhadas e Duas Igrejas, no concelho vizinho de Miranda do Douro.
Todos tinham celebrado um contrato com a CPFI (Companhia Portuguesa de Formação Informática, Lda), uma empresa com sede em Coimbra e com uma delegação em Matosinhos que ministrava cursos de informática por todo o país.
"De um dia para o outro deixaram de aparecer e ninguém sabe ao certo o que se está a passar", diz o presidente da junta de freguesia de Santulhão, António Padrão, que afirma ter, logo à partida, considerado exagerado o preço do curso (90 contos).
Como havia alguma gente interessada disponibilizou uma sala da sede da freguesia e acordou com a empresa de informática um "pequeno aluguer de 15 ou 20 contos", que ainda não recebeu.
"Em Santulhão só uma pessoa se safou porque não tinha dinheiro e só pagou os 17 contos de entrada, mas os outros pagaram a totalidade ou 60 ou 70 contos, até o curso ter deixado de funcionar", disse.
Nos contratos que a empresa celebrou com os formandos, junto do logótipo da mesma estão também timbradas como entidades reconhecedoras dos cursos o INOFOR- Instituto para a Inovação na Formação e a Secretaria de Estado do Emprego e Formação do Ministério do Trabalho e da Solidariedade.
A Agência Lusa contactou a secretaria de Estado do Emprego e Formação Profissional para confirmar se esta entidade era reconhecedora do curso, mas até ao momento ainda não foi possível obter a informação.
Constam ainda as moradas da sede e da delegação da empresa e números de telefone que "estão sempre incontactáveis", segundo o autarca de Santulhão, que ficou apenas com dois monitores de computadores, depois de os responsáveis pelo curso terem abandonado o local.
As justificações conseguidas pelos formandos foram dadas por um dos formadores dos cursos, Sidónio Geraldes, que reside numa aldeia do concelho de Vimioso - Matela - e que apenas sabe que a empresa faliu e uma segunda empresa está a ponderar a sua compra.
Segundo disse à Lusa, a iniciativa de suspender os cursos foi sua, porque "não podia sustentar mais aquela situação".
"A empresa não me pagava, diziam-me apenas que estavam a tentar resolver a situação", explicou, acrescentando que recebeu apenas metade dos honorários que lhe eram devidos através dos pagamentos dos formandos.
Os que frequentaram o curso queixam-se ainda dos conteúdos, alegando que "estão ultrapassados e não correspondem aquilo que lhes prometeram".
O formador admitiu que "os programas já não são recentes e o próprio equipamento é obsoleto, sendo muitas vezes necessário estar meio hora à espera que o computador arranque".
Uma segunda empresa (Advisor), sediada na Lousã e com morada onde consta apenas um apartado, apareceu, entretanto, no processo e recentemente enviou uma circular aos formandos apresentando-se como "um projecto de ensino à distância".
Informa que está a estudar a possibilidade de comprar a totalidade das quotas da CPFI, adiantando que "torna-se necessário proceder à auditoria da situação da empresa, nomeadamente a nível de débitos, créditos e inventários do activo".
Na circular datada de Janeiro e assinada pelo gerente Rui Osório, referia-se o prazo de três semanas apara apurar a situação, não se tendo registado, no entanto, qualquer desenvolvimento, de acordo com outro elemento da mesma empresa, Pedro Severa.
"A auditoria ainda está a decorrer e estamos a ver se tem ou não viabilidade para continuar a funcionar", declarou.



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