No passado sábado, os funcionários da Casa do Douro entregaram uma carta a todos os membros do Conselho Regional de Vitivinicultores onde reivindicavam uma \"tomada de decisão clara\" com vista à resolução dos problemas dos cerca de 170 trabalhadores da instituição.
A iniciativa foi do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública (Sintap) e prende-se com o facto de os funcionários ainda não terem recebido o salário do mês de Janeiro. Esta situação está a \"preocupar\" os trabalhadores, que, de há dois anos para cá, recebem os seus salários constantemente com atraso.
O presidente da Casa do Douro, Manuel António Santos, salientou os problemas financeiros da instituição e referiu que as receitas ordinárias \"não dão para pagar metade dos vencimentos\" e que, por isso, têm que ser originadas receitas extraordinárias através da venda de vinhos. Contudo, como assegurou, \"o negócio da venda de vinhos cessou\" e, como tal, a Casa do Douro não tem dinheiro para pagar aos funcionários. Manuel Santos diz lamentar esta situação e reconhece que \"os trabalhadores são sacrificados\", pois \"não há dúvida nenhuma que quem trabalha deve receber\". Por isso, diz, \"a nós, direcção e órgãos da Casa do Douro, esta situação custa muito\".
Apesar do \"clima de instabilidade\" entre os trabalhadores da Casa do Douro, o Sintap acredita que esta situação pode vir a ser alterada com a aplicação do Decreto-Lei aprovado em Conselho de Ministros a 30 de Dezembro e que apresenta soluções relativamente ao pessoal.
Segundo José Abraão, do Sintap, uma das propostas diz respeito à integração de 88 trabalhadores da Casa do Douro nos quadros da Direcção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes, podendo estes ser destacados ou requisitados. Assim, explica o sindicalista, a Casa do Douro iria \"libertar-se de uma carga financeira\", que são as despesas com o pessoal. José Abraão destacou ainda a hipótese de colocar as pessoas com contrato individual de trabalho noutros serviços ligados ao sector, como o futuro Instituto do Vinho do Porto e Douro ou o Instituto da Vinha e do Vinho. Esta situação permitiria, na opinião do sindicalista, que não se verificasse \"qualquer situação de desemprego\".
A par da manifestação em prol do pagamento dos salários em atraso, os trabalhadores apelaram a um entendimento entre o Governo, a Casa do Douro e as empresas que representam o comércio dos vinhos, para a \"rápida\" entrada em vigor desta proposta. \"Já vão sendo horas do Governo, independentemente das dificuldades de implementação da resolução e de entendimento entre os parceiros institucionais, accionar os mecanismos que tem ao seu dispor para resolver os problemas destes funcionários\", concluiu José Abraão.
Vinho desapareceu misteriosamente
Desapareceram do balão 11 da Casa do Douro cerca de 223 mil litros de vinho do Porto.
Na segunda-feira, técnicos da Casa do Douro, da empresa seguradora Fidelidade, da Caixa Geral de Depósitos e do Instituto do Vinho do Porto efectuaram o primeiro teste ao balão de cimento que derramou vinho da colheita de 1974. O balão foi atestado de água, selado e, de acordo com a direcção da Casa do Douro, a fuga de vinho, detectada no início de Janeiro, terá ocorrido devido a uma fissura no fundo do depósito. O líquido terá sido absorvido pelo solo, por efeito esponja, já que nas proximidades passa uma linha de água.
Os testes confirmaram a existência de falta de água no balão, o que demonstra a perda de líquido, primeiro do vinho e depois da água. No entanto, os técnicos vão prosseguir os testes, atestando de novo o balão, o que poderá acontecer já dentro de um mês.
O prejuízo da perda do vinho está estimado em cerca de dois milhões de euros, mas o produto estava totalmente coberto pelo seguro.
O derrame foi detectado pelos técnicos do Instituto do Vinho do Porto que, no âmbito do processo de saneamento financeiro da Casa do Douro proposto pelo Governo, estão a averiguar o vinho armazenado naquela instituição.
O vinho foi transferido para o referido balão em Agosto de 2000, foi selado pela Caixa Geral de Depósitos, e a última amostra foi retirada em Fevereiro de 2002, na presença de técnicos daquela instituição bancária.