O mecânico de automóveis que, em Julho de 2002, provocou o acidente no IP4 que roubou a vida aos pais da pequena Andreia - que o país conheceu através das páginas dos jornais, embrulhada num cobertor nos braços de um bombeiro aflito - ficou inibido de conduzir por sete meses.

A sentença foi proferida, ontem, pelo Tribunal de Amarante, num processo-crime movido pelo Ministério Público, que pedia \"uma pena exemplar no sentido banir das estradas os condutores irresponsáveis\". Além da inibição efectiva de conduzir, o arguido, José Manuel Vaz, 46 anos, foi condenado a dois anos e dois meses de prisão, suspensos por três anos.

O arguido regressou a casa em liberdade, depois de, em pleno julgamento, ter jurado que sofreu imenso com o sucedido. Os pais adoptivos (tios) da Andreia admitem que até possa ter sucedido, mas Mário Luís Pascoal, amargurado, deixou uma denúncia \"Ao contrário dos jornalistas, não fez um único telefonema para o hospital para saber como é que estava a menina\".

O juiz reconheceu, na leitura do acórdão, que a magistratura \"tem dificuldades em julgar este tipo de crimes\", mas, ainda assim, fez notar ao arguido que, devido à sua profissão, \"tinha a obrigação de perceber o quanto é perigoso não respeitar as regras de transito\". Não se sabe se o MP vai recorrer.

Em sede de julgamento ficou provado que, no momento do acidente, o arguido descia o IP4 no Marão a mais de 100km/h, numa zona onde o limite máximo é de 90km/h. Já o carro conduzido pelo pai da Andreia, que foi abalroado, circulava a 60km/h no sentido Porto-Vila Real.

No final da sessão, os pais adoptivos da Andreia, que se constituíram assistentes no processo judicial, estavam desolados com a sentença. \"Não queremos vingança, até porque nada fará regressar os nossos familiares à vida, mas uma pessoa que provoca aquilo que provocou não pode voltar a conduzir, sob pena de estarmos a caminhar num sentido sem sentido nenhum!\", desabafou Mário Luís Pascoal.

Além do processo-crime, ontem julgado no Tribunal de Amarante, corre na Relação um recurso da decisão em primeira instância do processo civil, em que a seguradora do mecânico foi condenada a indemnizar a menina em 316 mil euros. A seguradora alega que o valor da indemnização é demasiado elevado para o acidente em causa.

Do acidente ocorrido, em 22 de Julho de 2002, resultaram as mortes de José Armando Santos Ferreira, 26 anos, e Eulália Carmo Fernandes Cruz, 31 anos. A filha do casal, Andreia Daniela Cruz Ferreira, de quatro meses, sofreu um traumatismo cefálico, escapando milagrosamente por entre o amontoado de ferros em que ficou transformado o carro em que seguiam em direcção a Carrazeda de Ansiães. Andreia ia conhecer os avós paternos.

Andreia, que no próximo domingo faz quatro anos, desta vez não foi a Amarante visitar o amigo bombeiro, como habitualmente faz desde o fatídico dia, sempre que os pais adoptivos se deslocam do Porto (onde residem) a Carrazeda de Ansiães, terra natal dos progenitores da menina. Andreia ficou \"na escolinha\".



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