O Pai Natal, que nos últimos anos substituiu o Menino Jesus na entrega dos presentes na região transmontana, chega a Vila Real no sábado de pára-quedas para ser recebido por centenas de crianças.

Henrique Batista, presidente dos «Falcões do Marão», disse hoje à Agência Lusa que o objectivo da iniciativa é assinalar a época natalícia de uma «forma diferente» e ao mesmo tempo, dinamizar o aeródromo local e promover um primeiro contacto das crianças com os aviões.

O Pai Natal vai trocar o trenó e as renas por um avião e desce no Aeródromo de Vila Real, às 15:30 de sábado, numa iniciativa organizada pela Associação de Pára-quedismo «Falcões do Marão» e pelo Aeroclube local.

Esta iniciativa vai contar com a participação de centenas de crianças das escolas do concelho.

Segundo Alexandre Parafita, escritor e investigador do Centro de Tradições Populares Portuguesas, o primeiro contacto da população transmontana com o Pai Natal foi através da televisão.

O investigador explicou que, tradicionalmente, os pais diziam aos filhos que os presentes eram trazidos pelo Menino Jesus que, na noite de Natal, descia pelas chaminés para deixar os embrulhos nos sapatinhos das crianças.

Apesar das tradições de Natal em Trás-os-Montes se terem também adaptado aos tempos modernos, muitos outros símbolos da época natalícia mantêm-se ainda nesta região.

Um exemplo disso são as «murras», ou fogueiras de Natal.

Segundo Alexandre Parafita, a «murra» é um gigantesco canhoto de carvalho, castanho ou negrilho que arde noite fora no largo principal de algumas das aldeias trasmontanas e representa a «coesão de uma comunidade rural, que festeja na rua o verdadeiro sentido do Natal».

«Há cerca de 20, nas terras frias de Trás-os-Montes quase não havia quem não acendesse a murra na noite de Natal, mas hoje são poucas as que mantêm esta tradição», disse.

O investigador recordou que, em aldeias do concelho de Miranda do Douro, o empenho em arranjar um cepo enorme era tal que chegava a haver fogueira para quatro dias.

Por sua vez, no concelho de Mogadouro, o bocado que sobrasse da noite de Natal era feito em cavacos e vendido. Em Vinhais guardam-se os tições do Natal para todo o ano, pois «onde o fumo chegar não caem raios ou faíscas».

Alexandre Parafita referiu ainda que a noite de Natal começa na família com a consoada e termina no terreiro da aldeia à volta da fogueira, fazendo-se um «intervalo», em algumas aldeias, para assistir à «Missa do Galo» ao bater a meia-noite.

Este universo ritual das festas de Inverno tem igualmente expressão nos dias 24 e 25 nas celebrações de Santo Estêvão ou «festa da mourama», em Torre de Dona Chama, que simbolizam a expulsão dos mouros e a consagração do cristianismo.

Outros exemplos são a «festa dos reinados» em Ousilhão, de simbologia idêntica, e as «festas dos caretos» (ou festas dos rapazes), em outras aldeias e vilas transmontanas, que associam sempre mensagens cristãs com cultos pagãos e ritos de passagem para os jovens que, sob a cobertura das máscaras, assumem livremente todo o género e ousadias e críticas sociais.



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