Do combate a incêndios para a limpeza de vias e socorro de pessoas por causa da neve, em poucas horas os bombeiros do distrito de Vila Real enfrentaram diferenças brutais de temperaturas e de ocorrências.
"Tivemos um fim de semana diabólico, um sábado e domingo com um número de ignições ao nível do mês de agosto. Até segunda-feira tivemos incêndios de grande dimensão e, em menos de 24 horas, estávamos com o aposto, que é a limpar as vias de acesso às aldeias e a espalhar sal", afirmou à agência Lusa David Teixeira, vereador da proteção civil de Montalegre e comandante dos bombeiros locais.
Em poucas horas, o distrito de Vila Real passou dos incêndios para um dos maiores nevões dos últimos anos.
Os solos estavam secos, os matos grandes e a realização de muitas queimas e queimadas originou fogos de alguma dimensão.
O comandante dos bombeiros de Salto, também no concelho Montalegre, disse que os seus operacionais começaram o dia de terça-feira a combater dois incêndios florestais.
"O segundo incêndio tinha alguma dimensão e intensidade. Deu algumas horas de trabalho e só depois, por volta das 14:00, é que conseguimos finalizar o trabalho e já também com a ajuda do frio e chuva que antecedeu a neve", referiu Hernâni Carvalho.
Poucas horas depois, os bombeiros de Salto já estavam a ser chamados para ajudar na limpeza de vias com limpa-neves, para transportar algumas pessoas para as aldeias porque os pesados de passageiro não conseguiam circular e, ao mesmo tempo, tiveram que assegurar a emergência pré-hospitalar e o serviço regular de transporte de doentes.
"No fim de semana tivemos cerca de 25 incêndios e dois incêndios com alguma dimensão. Passados dois dias temos isto tudo coberto de neve", afirmou à Lusa Fernando Queiroga, presidente da Câmara de Boticas.
O autarca frisou que, neste concelho do norte do distrito transmontano, desde 1995 que não caía uma nevada tão intensa.
Fernando Queiroga encontra explicações para estas "discrepâncias tão rápidas de temperatura" nas alterações climáticas e no aquecimento global. "Não tenho dúvidas", sustentou.
Em Boticas, estão hoje na rua cerca de 35 a 40 operacionais, entre funcionários da câmara e bombeiros.
As escolas não abriram, é preciso espalhar sal por causa do gelo e limpar as estradas que foram também afetadas pela queda de árvores que cederam ao peso da neve, e está também a ser dada ajuda às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) no apoio domiciliário.
Em Montalegre o cenário é idêntico. Também não há aulas e a circulação nas estradas faz-se com dificuldade e muito cuidado.
Também em Vila Real, os bombeiros da Cruz Branca mobilizaram-se primeiro para o combate aos incêndios, ainda foram ajudar corporações de concelhos vizinhos, e depois foram chamados a responder às muitas solicitações provocadas pela neve.
"Em menos de 24 horas passamos para o extremo, a neve, também árvores caídas, muitas pessoas bloqueadas nas estradas porque nem sequer estão preparadas ou prevenidas para andar na neve e ainda estamos a ajudar as IPSS no apoio domiciliário", referiu o comandante Orlando Matos.
Estes têm sido bombeiros "todo o terreno e todas as temperaturas".
"E, quer numa situação quer na outra, a resposta foi dada pelo pessoal voluntário. Ontem tive cerca de 20 pessoas voluntárias e a equipa que estava permanente teve que trabalhar até depois da sua hora", salientou.
Os voluntários têm respondido às solicitações, mas o comandante admite alguns problemas devido a um descontentamento por parte destes operacionais que se sentem remetidos para um "papel secundário" na questão da proteção civil.
Hoje as escolas não abriram nos concelhos de Alijó, Sabrosa, Murça, Vila Pouca de Aguiar, Chaves, Boticas, Valpaços e Montalegre e há ainda registos de estradas condicionadas devido ao gelo e à queda de árvores.
Foto: Emanuel Ribeiro (Vista Aérea)
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