Foi no ano de 1968, após ver nove moedas do século IV nas mãos de três crianças, numa aldeia do Pópulo, que o padre e professor de história João Parente começou a sentir uma "paixão" pelas moedas. "Fiquei encantado", explica o padre, "e a partir daí fui adquirindo algumas e estudei-as".
Um dia, não sabendo muito bem o que fazer com as suas 33 mil moedas e com todo o espólio arqueológico adquirido ao longo da sua vida, João Parente começou a procurar um local adequado para o seu "tesouro". "Ofereceram-lhe" alguns espaços, como o Fórum da Maia, mas era ao seu concelho que gostaria de o deixar. Então, o antigo presidente da Câmara de Vila Real, Armando Moreira, pediu-lhe para apresentar propostas quanto aos locais onde gostaria de ver expostos os seus valeres.
Duas salas da antiga biblioteca pareciam ser ideais. Mas apesar de, na altura, a autarquia lhas ter oferecido, João Parente afirma que "elas estavam ocupadas para sempre através de um contrato". "Foram-me oferecidas maldosamente", lamenta. Através do Ministério da Cultura, João Parente conseguiu que as salas fossem libertadas, mas quando se preparava para colocar lá o seu espólio de numismática foi informado de que elas iriam ser ocupadas pelos serviços da Câmara Municipal. E as moedas de João Parente ficaram de novo sem tecto.
Com a chegada de Manuel Martins à Câmara de Vila Real, surgiu uma nova esperança para João Parente e para as suas moedas. O autarca sugeriu que se restaurasse uma das casas da cidade e lá se colocasse todo esse espólio. O museu começou quase de imediato a ser construído, e assim que o espaço para as moedas ficou pronto, foram todas colocadas nos expositores. As restantes obras terminaram, mas "nada mais se fez" para requalificar aquele espaço. "O que ficou por acabar, continua inacabado, e esta situação deixa-me muito triste", lamenta o padre João.
O doador deste espólio garante que já tentou por diversas vezes entrar em contacto com a Câmara, mas a única resposta que recebe é que "não há dinheiro" para a conclusão da obra. Segundo o padre, faltam todos os expositores para os seus achados arqueológicos, e é necessário proceder-se à limpeza da área de apoio ao museu, que "está ocupada com materiais que a Câmara não quer".
João Parente tem 70 anos e gostaria de desligar-se do Museu ao qual "entregou" muitos anos da sua vida e onde tem ocupado o cargo de director. No entanto, primeiro quer ter a certeza que o deixa "completo e em boas mãos". "As minhas moedas e os meus livros são os meus filhos", sublinha o padre, "e quero que fiquem bem entregues".
Foram precisos muitos anos de empenho e dedicação para que João Parente conseguisse adquirir cerca de 33 mil moedas e várias peças arqueológicas. Além disso, investiu largos milhares de contos em peças. Mas muitas delas, adquiridas para o museu, segundo diz, ainda não lhe foram pagas pela Câmara.