Uma jovem transmontana decidiu registar o quotidiano de uma aldeia nas encontras da serra do Alvão, em Vila Real, para alertar para a agonia do mundo rural, onde falta gente e sobram recursos, mas também solidão e isolamento.

A partir Mascosêlo, a aldeia dos avós, que Andreia Carvalho conhece desde pequenina, surgiu o documentário "A Última Lavoura desta Terra", apresentado hoje, em Bragança, e que está a ser mostrado em todos os institutos da Juventude da região Norte.

A ideia do projeto, iniciado em finais de 2012, "sempre foi alertar um pouco para aquilo que é a desertificação, principalmente do Interior Norte", como disse à Lua a autora, que vive e trabalho em Vila Real, a 15 quilómetros da aldeia, mas admite não se ver a viver permanentemente naquele local.

Licenciada em Cinema, com mestrado em Ciências da Cultura e um projeto empresarial na incubadora da Universidade de Trás-os-Montes (UTAD) na área do audiovisual, Andreia confessa "honestamente" que o mundo rural não é a área de interesse pessoal e profissional, mas acredita que há interessados e quer contribuir para a reflexão sobre o problema.

A aldeia do documentário é "muito isolada com alguma falta de recursos, principalmente a nível de mobilidade, estão lá cerca de 15 pessoas e com uma vasta produção a nível, por exemplo de castanha, e que está desperdiçada porque não há ninguém que consiga trabalhá-la".

A jovem começou por "fazer algumas questões às senhoras que lá viviam para perceber exatamente quais são as preocupações delas e a maior preocupação é o isolamento, estarem tão isoladas e haver esse perigo constante de caírem no abandono, no esquecimento".

Andreia reconhece que "é muito difícil, através de um projeto documental" resolver o problema porque não é fácil atrair "pessoas jovens para um sítio onde não tem praticamente nada à volta", apesar de estar a cerca de 15 quilómetros da cidade.

"É complicado conseguir atrair a população jovem. Isto, às vezes não é até uma questão de pouco esforço autárquico ou local, é mesmo uma questão de situação geográfica, daquilo que tem para oferecer a terra, que já é muito pouco", indicou.

A autora gostava que estes espaços tivessem "outra rentabilidade, até a componente turística, mas é muito difícil porque depois também não há pessoas para trabalhar lá, que se queiram deslocar para lá".

Adverte, contudo, que "isto é apenas um exemplo, não é um caso isolado".

"Acho que é um exemplo de outros casos que existem principalmente no Norte do país", vincou, acrescentando que a intenção do documentário é promover a reflexão sobre "o que é preciso fazer para contornar a situação ou, se não é para contornar, o que é que se pode fazer pelas pessoas que ainda estão nesta situação".

Com o trabalho que realizou já houve já curiosos que quiseram ir visitar a aldeia e Andreia acredita que "há pessoas com um interesse muito particular na agricultura e na pecuária".

Por isso pergunta: "onde é que estão essas pessoas, como é que podemos capitalizar aquilo que existe lá e fazer ali um simbiose entre as duas partes e conseguir que isso se torne rentável?".

Depois da zona Norte, é intenção da autora levar este documentário ao centro e sul do país acompanhado de uma exposição fotográfica sobre os momentos captados durante a rodagem.

HFI // MSP/Lusa



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