A quebra na produção de castanha ronda, este ano, os 30%, em Bragança e Vimioso. As doenças estão na base da baixa acentuada. Adivinham-se problemas sociais graves nas famílias que dependem daquela cultura.
Os concelhos de Bragança e Vinhais produzem 87% da produção nacional de castanha, cerca de 30 mil toneladas, movimentando milhares de euros anualmente. Mas quem trabalha a terra considera que o filão do castanheiro está subaproveitado porque não tem sido valorizado em termos turísticos e paisagísticos, nem ao nível da transformação nem da gastronomia. Mesmo assim, continua a ser um recurso fundamental.
O negócio mantém-se igual há séculos, a maior parte do lucro fica nos intermediários, pessoas que compram ao produtor e vendem a terceiros. Este ano, a castanha temporã, a variedade francesa e a primeira a cair, está a ser vendida no campo a dois euros, mas nas lojas chega a ultrapassar os quatro e cinco euros.
Os produtores de castanha de Trás-os-Montes queixam-se de que os castanheiros da região estão a morrer devido às doenças do cancro e da tinta, cuja disseminação está a aumentar, apesar de, em 1998, ter sido lançado um Plano de Erradicação do Cancro, que, segundo constatam diariamente, não teve os efeitos desejáveis.
O presidente do Monteval - Associação de Desenvolvimento Agrícola, Armando Bento, garante que o problema vai originar uma maior dependência social por parte das famílias, nomeadamente nos dois concelhos citados, que ainda têm na castanha a maior fonte de rendimento. \"Muitos reformados têm na castanha um suplemento, se não for assim, vão ter de recorrer a mais ajudas sociais\", considerou.
Os castanheiros estão a degradar-se rapidamente. Os agricultores não estão a conseguir resolver problemas criados anteriormente devido à relutância em acatar as recomendações das dezenas de acções de formação realizadas desde 1995, que alertaram para a necessidade de fazer pouca mobilização dos solos e a fertilização equilibrada, factores controláveis, já que os restantes, nomeadamente as temperaturas e a pluviosidade, estão fora do seu alcance.
Não há nenhuma área limpa das doenças. Em todas as zonas dos três locais há cancro, apesar de a Direcção Regional apontar só para 10% dos castanheiros infectados.
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Concelhos que mais produzem sofreram uma redução de 30%, este ano
Teolentino Rodrigues, de Pinela, em Bragança, é um dos castanhicultores a entrar em desespero. Teme ficar sem soutos em meia dúzia de anos. «Há muita doença e a produção cada vez é mais pequena, os castanheiros estão a secar», lamenta ao JN.
O agricultor faz contas à vida e vaticina um mau futuro, \"não sei o que farei sem os castanheiros, a carne dos animais é barata para vender e o cereal não compensa\". Diz que já não há anos de boa co-lheita. Pelas suas contas, está a colher metade do que devia devido ao cancro. Um castanheiro demora cerca de 10 anos a começar a produzir. No ano passado, conseguiu nove toneladas de castanha, mas este ano não sabe se chegará lá, já que se prevêem quebras nas variedades longal e judia.
Também José Reis, de Edral, no concelho de Vinhais, vê a situação mal-parada. \"Há cada vez mais doenças, quando deviam estar a regredir\", sustentou. No seu caso, a quebra de produção chega aos 10%.
Para aumentar a produtividade, em Vinhais, estão a dar-se os primeiros passos na plantação de soutos regados. Este ano, foram plantados nove hectares de castanheiros com rega gota-a-gota, um projecto experimental da responsabilidade de uma empresa agrícola sediada em Santarém, mas que detém vários investimentos em Vinhais. Recorde-se que foram plantados novos soutos nos últimos 10 anos, registando-se um aumento de 5000 hectares. A mancha actual em Bragança, Vinhais e Carrazedo de Montenegro (Vila Real) é de 35 mil hectares. A produção deveria estar a aumentar, mas as doenças estão a travá-la.