A empresa de vinhos Costa Boal Family Estates verificou um acréscimo de produção de 5% na sub-região do Cima Corgo e quebras de 20% no Douro Superior, exemplificando a vindima heterogénea verificada no Douro em 2022.

A produtora tem 65 hectares de vinha dispersos pelo Douro, nas sub-regiões do Douro Superior e Cima Corgo, mas também em Trás-os-Montes e no Alentejo.

Por isso mesmo, António Costa Boal consegue ter uma visão global da produção vinícola de 2022, um ano marcado pela falta de água e pelo calor intenso, mas que teve impactos diferentes nos diferentes territórios.

“A nível de produção aqui no coração da Costa Boal estamos com uma produção plenamente normal. No Douro Superior tivemos uma quebra na ordem dos 20%”, afirmou o produtor, que falava à agência Lusa em Cabêda, concelho de Alijó, sub-região do Cima Corgo.

Nestas vinhas em Alijó, segundo referiu, a produção foi de “mais cerca de 5 a 6%” e “tudo indica” que, relativamente à qualidade, seja “um bom ano”.

Já em Trás-os-Montes (Mirandela e Miranda do Douro) e Alentejo (Estremoz), verificou quebras “de 15%”, comparativamente com a colheita do ano passado.

“Quando falamos em quebra, essa quebra é completamente heterogénea, não é transversal à região toda. Temos sítios onde temos efetivamente quebras mais acentuadas, mas, por exemplo, aqui vamos ter um acréscimo de produção. Nestas zonas mais frescas vamos ter um acréscimo e não temos quebra”, acrescentou o enólogo Paulo Nunes.

E continuou: “Estamos numa das zonas mais altas do Douro (Cabêda) que era, provavelmente, uma zona periférica, e olhamos para esta vinha e estas paredes vegetativas e não sentimos o ‘stress hídrico’ que sentimos em outras zonas do Douro onde o calor foi muito mais intenso”.

Os técnicos apontam 2022 como um ano de reflexão e de aprendizagem, até porque as alterações climáticas parecem ser uma realidade cada vez mais presente na mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo - o Douro.

“Nós tínhamos uma coerência na viticultura que nos permitia dizer praticamente quando iríamos vindimar determinadas parcelas, isso não existe mais. Esse modelo de conforto tornou-se desconfortável e obriga-nos a ter um modelo de monitorização muito mais permanente e constante”, salientou Paulo Nunes.

O enólogo acrescentou que o que “aconteceu na colheita do ano passado nada tem a ver com o que aconteceu na colheita deste ano” e, na sua opinião, isso implica uma “mutação de hábitos e de controlo completamente diferente”.

A Costa Boal Family Estates tem as raízes no Douro. Os primeiros registos remontam a 1857, altura em que os antepassados de António Costa Boal produziam vinho do Porto que era encaminhado em carros de bois para o Pinhão e depois em barcos rabelo para Gaia.

Os seus pais e avós optaram por vender as uvas e, em 1999, o empresário entrou no negócio e apostou na produção de vinhos de denominação de origem controlada (DOC) e do Porto com marca própria.

O crescimento da empresa tem sido gradual e a aposta é “na qualidade”, “no mercado da diferenciação”, o que permite “incrementar valor acrescentado no produto”.

“Foi um caminho que quisemos seguir, fazer vinhos com identidade, vinhos de parcela e sempre assente em castas autóctones, o que nos permite ter um controle 100% da produção de vinhos”, salientou António Costa Boal.

Esta vindima culmina um ano “muito difícil” para os produtores de vinho, um ano ao longo do qual foram vários os desafios com que se depararam, desde a falta de mão de obra ao aumento generalizado dos preços, quer de garrafas quer de combustíveis, e que, no seu conjunto, aumentaram também os custos de produção.



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