O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) vai quantificar as parcelas de vinha que não foram vindimadas ou que o foram apenas parcialmente, após recomendação ao Interprofissional da Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (Prodouro).

A vindima de 2024 está praticamente concluída no Douro e fica marcada por dificuldades de venda da produção, com produtores a deixar na vinha as uvas que não foram destinadas ao vinho do Porto.

Operadores alegaram ‘stocks’ cheios para não comprarem ou comprarem menos uvas este ano.

Perante este cenário e para compreender melhor a realidade e orientar ações futuras, a Prodouro recomendou ao Conselho Interprofissional do IVDP, que aceitou a sugestão, uma adenda à Declaração de Colheita e Produção 2024, na qual o viticultor declara a área e o modelo de vinha que não vindimou por falta de comprador.

Na sequência da recomendação do Interprofissional, o IVDP já mandou um e-mail aos viticultores, com uma tabela anexa, para que estes especifiquem as parcelas não vindimadas, uma informação que, segundo o instituto público, deve ser submetida até 15 de novembro.

O presidente da Prodouro, Rui Soares, disse à agência Lusa que o objetivo é quantificar, medir e avaliar para se ter “uma real perceção da uva que ficou na vinha”.

E, acrescentou, em função da informação validada pelo IVDP, um segundo objetivo é a tomada de medidas.

“No caso de chegarmos à conclusão que efetivamente foi um problema que afetou muita gente e que ficaram muitas pipas por vindimar, então aí pode-se pensar em medidas compensatórias para essas situações, mas só podemos avaliar e tomar decisões se tivermos isto quantificado e fiscalizado, e, por isso, a nossa sugestão”, salientou.

Ao longo da vindima a Lusa foi ouvindo testemunhos de agricultores que afirmaram ter deixado parte das uvas “sem benefício” na vinha. O benefício é a quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto.

Outros mostraram-se aliviados por entregar as uvas nas adegas cooperativas, embora, em alguns casos, sem saberem ainda quanto vão receber pela produção. As adegas são obrigadas a receber a produção dos seus associados e muitas fecharam as portas à entrada de novos sócios.

“Foi um ano atípico”, afirmou o presidente da União das Adegas Cooperativas da Região Demarcada do Douro (Uniadegas), José Meneses, que destacou o problema da falta de armazenamento, já que as adegas estavam com ‘stocks’ elevados.

“E ao juntar, agora, esta campanha, vai ser complicado para as adegas escoarem o produto, pelo menos a um preço razoável”, apontou, referindo que, perante a quantidade de uvas que as adegas recolheram vai ser também necessário “reajustar preços” pagos aos produtores.

Isto porque, referiu, “quando não há escoamento do produto e não há mercado que absorva o produto, é complicado”.

O responsável pediu que seja bem definida, nos rótulos, a proveniência dos vinhos e onde é que eles são engarrafados. “É isso que pedimos. É uma lealdade para com os nossos agricultores”, apelou.

Disse ainda que as medidas anunciadas pelo Governo, como a destilação de crise e a linha de crédito de 100 milhões de euros, com juros bonificados, ajudaram a “colmatar algumas lacunas”, no entanto reclamou a criação de linhas de apoio específicas para a modernização das adegas.

A linha de crédito de 100 milhões de euros, com juros bonificados, visa apoiar produtores e fornecedores da uva adquirida ou a adquirir, permitindo aliviar constrangimentos de tesouraria.

Segundo referiu José Meneses, a colheita no Douro “manteve-se ou até aumentou ligeiramente”, comparativamente com o ano passado, exemplificando com a sua adega, a de Torre de Moncorvo, que contabilizou um aumento de 15% de uvas.

“A maturação da uva foi muito gradual, tivemos temperaturas bastante moderadas e até acreditamos que é um ano de qualidade”, realçou.

A Uniadegas representa 10 adegas cooperativas.

Foto: DR



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