O Douro está a delinear medidas concretas para tornar a região mais dinâmica e sustentável e uma delas, já aprovada localmente, visa o fim do ‘stock’ mínimo para o vinho do Porto, disse hoje o presidente do IVDP.

“Ao nível do conselho interprofissional já foi decidido que deixe de existir um ‘stock’ mínimo de vinho do Porto, para que novos agentes económicos se possam instalar e comercializar”, afirmou à agência Lusa o presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), Gilberto Igrejas.

O interprofissional é um órgão de representação paritária da produção e do comércio, competindo-lhe a gestão das Denominação de Origem Protegida (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP) da Região Demarcada do Douro.

“Havia um ‘stock’ mínimo para qualquer produtor de vinho do Porto que eram os 75 mil litros e, ao nível do interprofissional, já se acordou que, numa próxima alteração regulamentar, essa medida vai ser retirada”, concretizou.

Esta medida abre a possibilidade de, acrescentou, um jovem enólogo que produz vinhos do Douro possa também produzir vinho do Porto, introduzindo novas dinâmicas de comunicação e valorizando mais o produto.

Foi no seio do interprofissional que foram criados em 2023 grupos de trabalho que estão a avaliar e a estudar os diplomas da região para que, a médio prazo, sejam desenvolvidas medidas concretas.

“Para que a Região Demarcada do Douro se torne cada vez mais sustentável precisamente do ponto de vista económico e social, garantindo a presença humana no território”, frisou Gilberto Igrejas.

No Douro, a última vindima ficou marcada por alguma agitação social porque, invocando dificuldades de vendas de vinho, grandes empresas não compraram ou compraram uvas em menos quantidade aos produtores que, por sua vez, se queixaram de entregar as uvas “sem preço” ou a “preços muito reduzidos”.

A propósito das queixas e reivindicações feitas na região, a ministra da Agricultura disse, a 20 de outubro, que pediu propostas ao conselho interprofissional do IVDP, para o ministério poder “dar resposta em termos de política pública”.

“Eu percebo as dificuldades dos pequenos agricultores (…), mas aquilo que temos que pensar, e estamos a fazê-lo ao nível do interprofissional, é projetar a região não para um ano especial de uma vindima excecional, mas sim projetar a região para uma década ou para duas décadas”, afirmou o presidente.

Gilberto Igrejas destacou que a estratégia para a região passa por uma valorização das DOP Douro e Porto, mas também por um aumento da proteção das DOP/IGP e um esforço continuado de promoção, ao nível da qual está prevista uma verba de 2,2 milhões de euros em 2024.

“Temos que pensar mais ao nível da projeção da região para o futuro, temos que pensar se a quantidade de vinhos que nós estamos a produzir é uma quantidade razoável ou se, pelo contrário, é uma quantidade excessiva”, afirmou.

Na sua opinião, “um bem para ser precioso tem que ser escasso” pelo que, defendeu, a aposta tem que ser na qualidade e não na quantidade.

Em 2023, a comercialização de vinhos do Douro e do Porto rondou os 615 milhões de euros, uma quebra de 1% comparativamente com o ano anterior. Na última vindima, a colheita de uvas na região aumentou 7% para as 249.514 pipas.

Segundo o jornal “IVDP + Próximo”, em cima da mesa dos grupos de trabalho estão outras medidas como a possibilidade de reconhecimento do conselho interprofissional como agrupamento de produtores, o estabelecimento de regras sobre a densidade de plantação, a regulação do rendimento por hectare na região demarcada ou a alteração do título alcoométrico adquirido das DOP/IGP.

No ano passado, também se falou numa reforma institucional na região. Gilberto Igrejas preferiu realçar as medidas que estão a ser debatidas no interprofissional e que “podem conduzir a melhorias significativas no âmbito da sustentabilidade da região”.

Na Assembleia da República foi aprovada a restauração da Casa do Douro como associação pública de inscrição obrigatória, podendo vir a assumir competências que são, neste momento, do IVDP.

Instado a comentar, Igrejas disse estar a “aguardar atentamente o que se vai passar”, lembrando que o diploma será enviado para o Presidente da República.



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