Mogadouro acolhe no dia 14 de janeiro, após dois anos de interregno devido à pandemia, mais de duas dezenas de grupos dos rituais do solstício de inverno vindos de Portugal e Espanha, foi hoje divulgado.

Este desfile de grupos mascarados promete colocar as ruas desta vila do distrito de Bragança em total alvoroço com a sua tropelias, próprias destas figuras “demoníacas”, que tradicionalmente saem à rua por altura do Natal, Ano Novo e Carnaval.

“Como nesta altura já houve o desfile destas figuras em cada uma das aldeias do concelho e vizinhos, com exceção das mais carnavalescas, este dia [14 de janeiro] é o que reúne maior consenso”, vincou a vereadora da Cultura de Mogadouro, Márcia Barros.

A folia começa com um desfile, que vai percorrer as principais ruas da vila de Mogadouro, no distrito de Bragança, até chegar ao centro histórico, local onde todos os grupos se juntam, causando o alvoroço típico destes mascarados solsticiais de origem pagã.

“Até ao momento estão confirmados duas dezenas de grupos de mascarados vindos das Astúrias, Galiza e Castela e Leão, do lado espanhol. Já do lado português, são esperados os mascarados do Nordeste Transmontano, Douro e Beira Litoral”, explicou a autarca

Este ano o destaque vai para a Mascarinha e Mascarão, duas personagens mascaradas e recentemente recuperadas, oriunda da aldeia de Vilarinho, que estavam perdidas no tempo há mais de meia centena de anos e que devido à pandemia tiveram de aguardar para saírem à rua e serem as figuras de destaque no desfile de 2023.

Antero Neto e António Rodrigues Mourinho, investigadores deste tipo de tradições, afirmam que o concelho de Mogadouro é rico nestes rituais associados ao solstício de inverno, tais como o "ancestral e enigmático" Chocalheiro de Bemposta, os Velhos de Bruçó, o Chocalheiro de Vale de Porco, o Careto e a Velha em Valverde, Farândulo de Tó ou a Mascarinha e o Mascarão de Vilarinho dos Galegos.

"Nos últimos anos temos assistido ao recuperar de velhas tradições que envolvem os mascarados, que estavam perdidas e que, com os testemunhos de alguns populares mais idosos, foi possível recuperar. Estas tradições foram-se perdendo devido ao esvaziamento demográfico do território", vincou Antero Neto.

Este investigador é responsável, em parceria com as respetivas populações, pela recuperação de antigos rituais no concelho de Mogadouro tais como a Mascarinha e Mascarão e Careto e a Vela de Valverde, ambos do concelho de Mogadouro.

Este encontro desperta o interesse dos fotógrafos, jornalistas, investigadores ou simples curiosos, vindos de todo o lado, para conhecer estas enigmáticas figuras espalhadas um pouco por todo o Nordeste Transmontano.

Para o historiador António Rodrigues Mourinho, tudo isto está ligado à cultura pagã e não se conhece a sua origem, sendo classificados como "rituais de passagem e fertilidade" incorporados em figuras espampanantes e misteriosas.



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