“As comunidades portuguesas e as migrações” foi o principal tema do debate presidido pelo Professor Adriano Moreira, que aponta a situação dos refugiados como “terrível e de incerteza”.
Inserida no Ciclo de Conferências “Biblioteca Adriano Moreira, Conversas sobre Valores e o Futuro”, decorreu ontem por volta das 22 horas o debate sobre o tema “As comunidades portuguesas e as migrações”.
No encontro que decorreu na Biblioteca Municipal do Centro Cultural Municipal Adriano Moreira e onde estiveram cerca de três dezenas de pessoas da cidade, a discussão dos tópicos em análise foi presidida pelo Professor Adriano Moreira. “O bom filho a casa torna” e em “sua” casa, o catedrático partilhou com o auditório a sua visão sobre a atualidade e o mundo, numa perspetiva a que ninguém consegue ficar indiferente, contribuindo, assim, para o enriquecer ideológico de todos os presentes.
“Portugal tem imensa experiência no problema das migrações, mas é uma experiência justamente inversa à atual: é nós emigrarmos para outros lugares e, justamente, é por isso que o tema de hoje é o tema das comunidades portuguesas no estrangeiro”, começou por explicar o afamado e intrépido orador da noite. No entanto, como o assunto que está a dominar a agenda política internacional é a crise dos refugiados e as sequentes correntes migratórias, sobretudo, para a Europa, as questões dos jornalistas visaram, essencialmente, essa realidade tão controversa, mas que está na ordem do dia.
“O problema das migrações é que está a violar dois pressupostos das Nações Unidas que são o Mundo Único e a Terra Casa Comum dos Homens. Mas nem o mundo está único, pode-se dizer que há guerra em toda a parte, nem é verdade que seja a casa comum de todos os homens devido às dificuldades causadas pelas emigrações”, continuou o Professor, “é uma grande infelicidade, primeiro, que essas emigrações levem a ter que avaliá-las sempre com o receio que foi estabelecido pelo Terrorismo Internacional. Essa é uma das dificuldades porque o efeito do terrorismo internacional principal é que procura quebrar a confiança entre as sociedades civis e os seus governos e estão a conseguir. Por outro lado, a guerra em toda a parte. Há centenas de milhares de crianças em combate”.
Para Adriano Moreira, o “mediterrâneo é um cemitério” e, neste momento, as emigrações desafiam a “capacidade de recebimento que se apoia em deveres da Humanidade e em tratados que existem e, ao mesmo tempo, o receio que leva a preocuparem-se com a segurança e defesa”.
Na opinião do catedrático, o programa “Frontex” na Europa é, manifestamente, insuficiente por não ter sido preparado para enfrentar uma situação desta magnitude, no que aos refugiados diz respeito. Depois, segundo Adriano Moreira, há dois fatores a ter em conta. Um é a segurança das próprias populações que receiam acolher emigrantes estrangeiros, sendo que o outro fator passa, inevitavevlmente, pelos colossais recursos financeiros necessários para acolher esses mesmos refugiados.
O resultado é que “os deveres da Humanidade estão a ser enfraquecidos por este problema com reações extremamente condenáveis como a do Primeiro-Ministro da Hungria que mandou disparar sobre os emigrantes e, neste momento, as difíceis negociações com a Polónia e o agravamento das circunstâncias na Grécia”, tudo isso faz com que “a unidade europeia e a sua própria estrutura estejam rodeadas de “desafios que colocam em causa os tais princípios fundamentais que referi: que o Mundo é Único, que a Terra é Casa Comum dos Homens e o desenvolvimento sustentável em nome da Paz está tudo posto em causa neste momento”.
Para o Professor, caraterizar tal cenário é o mesmo que dizer que se trata de “uma situação terrível, de incerteza”, mas ressalva que Portugal está, “na medida das nossas possibilidades”, a cumprir o seu papel no que ao acolhimento de refugiados diz respeito. Uma das premissas defendidas pelo teórico transmontano é a de uma reformulação urgente da instituição Nações Unidas
Questionado pelo Diário de Trás-os-Montes (DTM) sobre aquilo que poderia ser feito para alterar a situação, quer em Portugal, quer a nível europeu, o catedrático responde que, hoje, “os problemas têm de ser sempre examinados do ponto de vista global. Eu acho que a primeira coisa a fazer é reformular as Nações Unidas (UN) porque esse é o pressuposto dos tais princípios em que toda a gente acreditou quando as Nações Unidas foram constituídas”. De seguida, o DTM perguntou se a UN não seria uma instituição decrépita, cujo prazo de validade já teria expirado há muito. “Não é que seja decrépita! Significa que as instituições sofrem de uma doença própria, que é a desatualização”, respondeu Adriano Moreira.
Procurando o DTM, ainda saber se, perante tantas guerras e crises económicas, de valores e com a questão dos refugiados, o Professor partilha uma visão positiva ou pessimista acerca do futuro da Humanidade, o académico só tem uma certeza, a incerteza. “O desenvolvimento sustentável, que é o novo nome da paz, tem falhado. Se quiser caraterizar a situação em que nos encontramos e que vai ser a herança da próxima geração é de incerteza, de imprevisibilidade”, antecipou o sempre generosamente sábio orador da noite de 17 de março.
Quem partilhou a mesa com o Professor Adriano Moreira, foi o presidente da Câmara Municipal de Bragança (CMB) que defende uma ação acolhedora, de abraço, perante a chegada de refugiados à Europa, a Portugal e, mais precisamente, ao distrito. “Bragança, pelas caraterísticas que tem, sendo nós pessoas extremamente hospitaleiras e que gostamos tanto de bem receber, estou certo de que qualquer refugiado que para cá viesse seria bem acolhido e eu creio que conseguiria integrar-se plenamente na nossa sociedade, que é uma sociedade aberta, acolhedora e que gosta, também, de ter gente de fora e de receber bem”, declarou Hernâni Dias, momentos antes de ter início o segundo ciclo de conferências, admitindo, no entanto, que qualquer medida acerca deste tema “tão delicado” teria de partir do Governo e ser implementada a nível nacional.