Em mais um fim-de-semana de grande afluência foram vários os problemas por falta de capacidade da infraestrutura que o gestor teima em não resolver.

A Linha do Douro registou este fim-de-semana, uma vez mais, problemas na operação por constrangimentos da infraestrutura e capacidade que poderiam ser mitigados pela eletrificação até ao Pocinho.

Apesar de não se ter tratado de uma situação pontual, este fim-de-semana tornou-se ainda mais evidente a falta de capacidade da linha do Douro perante a procura crescente que nos últimos anos (incluindo no decurso da pandemia) se tem verificado. Foram registadas situações de comboios a circular com passageiros muito acima da capacidade1 mas também a decisão do operador, no passado sábado, de não realizar a venda de bilhetes para dois comboios, um entre Porto e Pocinho e outro entre Pocinho e Porto que, habitualmente, registam as maiores ocupações diariamente.

No passado sábado registaram-se na Linha do Douro 20 circulações entre os comboios de serviços comercial, serviço especial, histórico a vapor e Presidencial. Os diversos afrouxamentos (reduções da velocidade) decorrentes de situações de manutenção que a Infraestruturas de Portugal (gestora da rede) não consegue resolver ao longo de vários meses, e nalguns casos, anos, complica diariamente o cumprimento dos horários, o que se traduz em atrasos significativos que, por se tratar de uma linha de via única, rapidamente se propagem ao longo do dia deixando os passageiros à beira de um ataque de nervos.

Na ótica da Associação Vale d’Ouro estes problemas poderiam ser mitigados com a eletrificação da Linha do Douro até ao Pocinho, segundo o seu presidente, Luís Almeida: “a eletrificação permitirá colocar em serviço na linha do Douro locomotivas mais potentes que até temos disponíveis (série 2600 recentemente recuperadas ao serviço) e que permitiriam rebocar mais carruagens sem perdas significativas de velocidade e, com isso, ter mais lugares disponíveis já que não é possível encontrar mais canais horários para mais comboios circularem, já para não falar na diversificação da oferta com Intercidades, por exemplo”.

Recentemente a Associação Vale d’Ouro participou na consulta pública do Plano Operacional Regional do Norte, elaborado pela CCDR-N, onde se mostrou preocupada pela aparente não inscrição da eletrificação até ao Pocinho ou a reabertura até Barca d’Alva: “a eletrificação é urgente, a proposta apresentada é curta, não corresponde aos desejos da população e ignora frontalmente a resolução unânime da Assembleia da República sobre Barca d’Alva” e conclui “o valor inscrito para a empreitada Marco-Régua, de acordo com os plurianuais recentemente publicados, esgota todo o valor inscrito no PO Regional Norte” e questiona “onde está o dinheiro para a eletrificação até ao Pocinho, que também é mencionada no plano, a par de outras intervenções no Vouga e na Linha do Vale do Sousa?”.

A Associação Vale d’Ouro aponta ainda outros problemas associados à infraestrutura e que tem limitado a capacidade e os tempos de viagem. São já de há alguns anos as intervenções que inviabilizaram a possibilidade cruzamentos em Covelinhas e as reduções de pessoal afeto às estações do Pocinho, do Tua e do Pinhão, o que numa linha de via única e com cantonamento telefónico se traduzem em maiores restrições à circulação e por conseguinte menor capacidade. Ainda recentemente a renovação integral de via entre Pinhão e Tua não teve, “inexplicavelmente” qualquer aumento de velocidade num troço que não apresenta quaisquer dificuldades de natureza geotécnica. É, segundo Luís Almeida, “no mínimo, questionável a incapacidade de extrair valor dos investimentos realizados”.

A instituição reclama assim que o concurso para a elaboração do projeto de eletrificação da Linha do Douro seja lançado imediatamente (estava previsto para final de 2021) em conjunto com o projeto para a reabertura até Barca d’Alva e que sejam assumidos pela Infraestruturas de Portugal ou pelos ministérios da tutela (Infraestruturas e Finanças) prazos credíveis para a conclusão da empreitada e com os quais a região possa trabalhar na planificação da sua oferta turística.

Para a Associação Vale d’Ouro o protelar deste investimento significa um enorme desrespeito pela região e pelos seus habitantes, sobretudo os que diariamente usam o comboio.



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