Em Boticas, a onda laranja envolve gerações, a militância é ativa, o ato de votar respeitado e o envelhecimento da população representa o maior desafio para o PSD, partido que sempre liderou no município transmontano.
“Já era uma onda laranja que havia no concelho e isso também nos influencia naturalmente, apesar de nós já termos este bichinho cá dentro”, afirmou à agência Lusa Fernando Queiroga, que cumpre o terceiro e último mandato como presidente de câmara eleito pelo PSD.
Militante desde 1989, foi o primeiro presidente da Juventude Social Democrata (JSD) neste concelho do distrito de Vila Real.
Desde as primeiras eleições livres em Portugal que o PSD ganha neste município.
Nas legislativas de 2022, segundo dados da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, foi neste “bastião laranja” que o PSD obteve a votação mais expressiva em termos percentuais, com 58,34% (1.937 votos) contra os 29,25% (971) do PS.
Entre 2019 e 2022, o Chega passou de 10 para 148 votos, tornando-se na terceira força partidária. Em 7.718 eleitores inscritos, votaram 3.320 (43,02%).
Nas autárquicas de 2021, o PSD conseguiu 73,55% - conquistou as 10 freguesias do concelho - o PS obteve 15,99% e a abstenção foi mais reduzida.
Questionado sobre o porquê da atratividade laranja neste território, Queiroga disse que “não há segredo nenhum” e resulta da postura de proximidade de quem está à frente do partido.
No concelho houve três presidentes após o 25 de Abril, incluindo o atual. “Todos sabem que a porta do presidente da câmara está sempre aberta”, frisou, realçando a ligação com as juntas e as associações.
Como desafio, Fernando Queiroga apontou o envelhecimento. “Não é do PSD, é do concelho, é do país, mas de facto já se nota, mesmo em termos de votações, que vamos perdendo população”, referiu.
O despovoamento é o “amargo de boca” com que vai ficar no final do mandato em 2025, embora saliente que o número de alunos estabilizou e há jovens a regressar porque a “vida lá fora também não está fácil”.
As autárquicas são o ato eleitoral que mais mobiliza a população, mas há eleitores, como Salvador Magalhães, 84 anos, que votaram em todas as eleições. “Nunca falhei”, garantiu.
Também o ex-presidente de junta Acácio Gonçalves, 70 anos, disse que só não vota se não puder.
Em Boticas, a militância atravessa gerações. “Vai passando muito de pais para filhos e são os ideais com os quais me identifico”, salientou Célia Carneiro, 43 anos, militante e filha de um social-democrata.
Leandro Pereira, 29 anos, é presidente da JSD, filho de um militante e assume a missão de trazer os jovens para a participação ativa no partido que garante que é “liderado pelos melhores” quer a nível local quer nacional.
A concelhia tem cerca de 650 militantes, a esmagadora maioria com quotas pagas, e a JSD 100.
O presidente da comissão política concelhia, Guilherme Pires, explicou que a militância se incute em Boticas devido à política de proximidade.
“Não é por termos ganhado sempre as eleições que nos vamos deitar à sombra da bananeira, estamos sempre atentos às necessidades dos munícipes”, frisou o também vice-presidente da câmara.
Boticas mobiliza-se para as eleições de 10 de março, em que o PSD vai a votos com a Aliança Democrática (AD), que junta o CDS-PP e o PPM.
Guilherme Pires acredita que a AD não vai criar confusão entre os militantes. “As pessoas estão bem informadas, a literacia partidária é elevada e as pessoas sabem distinguir o voto na AD de outros partidos que estão no boletim de voto”, frisou.
Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março, marcadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência da demissão do primeiro-ministro, António Costa, em 07 de novembro, alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça.