A doença que afeta os sobreiros faz-se sentir com muita intensidade nos montados do centro e sul do país, Serras do Cadeirão, Sines, S. Tiago de Cacém, Grândola, Cabrela, Lavre e Coruche, Mora e para norte, Montargil até ao Tejo, etc., onde se têm cortado todos anos centenas de sobreiros secos que se vendem como lenha.
Mas a região de Trás-os-Montes não está imune e a doença chegou ao concelho de Alfandega da Fé, a norte, na União das freguesias de Agrobom, Valepereiro e Saldonha onde se verifica a seca de sobreiros.
Há vários anos que se conhece a causa desta doença, um micro-organismo patogénico do solo semelhante a um fungo, a fitóftora, classificado no grupo dos Oomycetes, que se consegue deslocar na água do solo e se instala nas raízes finas das árvores impedindo que estas captem a água e nutrientes.
A doença tem alastrado e até hoje NÃO TEM TRATAMENTO! Podemos dizer que é o maior desastre ecológico no país porque atinge todos os carvalhos, sobreiros e azinheiras e ainda causa da doença da tinta do castanheiro. Porquê este desaire da engenharia florestal na eliminação deste patogénio? Um organismo semelhante, o míldio, ataca a vinha e há séculos que a vinha é curada!
A razão é a seguinte: a fitóftora vive no solo e subsolo e qualquer produto químico que se pretenda aplicar é ilegal porque é tóxico para o ambiente, em particular para a água potável dos lençóis freáticos! Este Oomycete resguarda-se muito bem!
Surgiu muito recentemente uma inesperada linha de tratamento que talvez possa vir a dar resultado: descobriu-se que há plantas, a nível da raiz, que contrariam o desenvolvimento da fitóftora, enquanto existem outras plantas que lhe facilitam a vida e por vezes até a multiplicam – diz-se destas que são hospedeiros da fitóftora! Deve referir-se que num doutoramento da Universidade do Algarve foi demonstrado que a raiz duma planta segregava moléculas que evitavam a contaminação pela fitóftora de pequenos sobreiros vizinhos! – foi um efeito inesperado e identificou-se essa segregação!
Sendo recente esta descoberta, de um universo de centenas ou milhares de plantas, apenas foram sumariamente analisadas quinze, ou seja, esta investigação está praticamente no zero. E é muito importante que todas as espécies de plantas fossem verificadas, em particular que se determinassem quais as pastagens a instalar debaixo de montado (ou de souto) e que o podem proteger!
Incluindo este objetivo foram entregues há dias no FCT, Fundação para a Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, duas candidaturas, uma do INIAV, em Oeiras, o Instituto que concentra a investigação florestal do País e outra do ISA, o Instituto Superior de Agronomia de Lisboa. A eventual aprovação e financiamento destes dois projetos é uma rara oportunidade de se conseguir debelar esta doença sem recorrer a fitofármacos nocivos ao ambiente!
António A. P. Vacas de Carvalho
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