Foram abatidos na Serra da Nogueira, numa área protegida pela Rede Natura 2000, centenas de carvalhos que ocupavam aproximadamente sete mil metros quadrados. Isto em plena época de nidificação de \"um grande conjunto\" de espécies de aves que ali se reproduziam.

Segundo o director do Parque Natural de Montesinho (PNM), João Herdeiro, naquele local foi vista uma espécie que \"em Portugal, foi apenas descrita naquela zona\". Mas, para além das consequências do acto relativamente à reprodução das espécies, o abate das árvores não foi comunicado nem autorizado pelo Instituto de Conservação da Natureza (ICN), que, através do PNM, deveria dar \"apoio técnico e uma resposta administrativa\" sobre esta matéria.

A referida área de carvalhal pertence à localidade de Formil, freguesia de Gostei, no concelho de Bragança, e a situação, apesar de ainda ser desconhecida por grande parte da população de Formil, foi denunciada por um residente da aldeia. Segundo Marcelo Morais, um dos habitantes da localidade, a autoria dos cortes das árvores terá sido dos próprios trabalhadores dos Serviços Florestais da Direcção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes (DRATM), que durante dois dias consecutivos (quarta e quinta-feira da semana passada) \"devastaram duas grandes áreas\" de mata de carvalhal negro, fazendo \"cortes rasos\" em várias árvores.

Marcelo Morais, que já teve oportunidade de verificar no local o \"trabalho\" feito pelos Serviços Florestais da DRAMT, diz-se indignado com aquilo que viu, e descreve a situação como \"uma asneira, uma vergonha e um atentado à natureza\". No seu parecer, a DRAMT é \"responsável\" por esta situação. No entanto, o morador levanta também algumas questões relativamente ao trabalho da direcção da comissão do baldio.

Segundo fonte ouvida pelo Semanário TRANSMONTANO, que prefere não ser identificada, na altura em que os carvalhos foram abatidos, era possível ouvir o \"chilrear desesperante dos pássaros\". A mesma fonte adiantou que da mata de carvalhal \"saíram vários tractores com madeira que não se sabe ao certo que destino terá\".

Por sua vez, o director do PNM afirmou que já foi feito um levantamento da situação, garantindo que o assunto vai ter uma sequência administrativa e será dirigido às entidades competentes.

Também o comandante da GNR de Bragança, Aquilino Ala, confirmou a denúncia da situação. Contudo, adiantou apenas que \"a GNR já esteve no local, recolheu vestígios do que se passou e já fez um relatório que irá prosseguir pelas vias hierárquicas\" .

Contactado pelo Semanário TRANSMONTANO, o director da DRATM, Fernando Martins, afirmou que se tratou de cortes para lenha e que tudo foi feito de \"comum acordo\" com a população (que tem direito a uma percentagem da lenha) e com a direcção do baldio. Fernando Martins disse que para se proceder ao corte das árvores não era necessária a autorização do ICN e que os ditos cortes foram feitos em faixas onde a população disse que se podia cortar lenha. O director da DRATM acrescentou ainda que uma parte dos cortes foi feita para a limpeza e abertura de caminhos e que não foram os trabalhadores dos Serviços Florestais que cortaram tudo. \"Não fomos nós que cortámos tudo, parte das árvores foram cortadas pela população e outra parte por nós\", justificou. O mesmo responsável referiu que os carvalhais são \"árvores sem grande interesse\" e que \"não há altura específica para proceder ao corte\". Quanto à ameaça na reprodução das espécies, disse: \"Não sei nada de pássaros\".

No entanto, João Herdeiro lembrou que não foi pedida autorização para abertura de caminhos e que durante uma visão aérea que foi feita no local não havia caminhos alguns, apenas rodeiras de troncos de árvores que se notava que tinham sido cortados recentemente. Já o habitante de Formil, Marcelo Morais, afirmou que as declarações do director da DRATM são \"descabidas e sem nexo\" e mostram que o dirigente \"não tem conhecimentos bastantes sobre o local que foi afectado e conhecimentos para exercer o cargo de director regional de Agricultura\".



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