Emanuel Gomes não comeu propriamente o pão que o diabo amassou, mas esteve perto, na sua difícil trajectória de emigrante entre a ilha da Madeira e a cidade de Brockton, em Massachusetts, no condado de Plymouth. Hoje, aos 40 anos de idade e no topo de uma carreira desde cedo ambicionada, Gomes é exemplo de como as adversidades da vida podem ser ultrapassadas com força de vontade, persistência e muito trabalho.

Tinha 8 anos de ida e e apenas 2 de escolaridade quando, com os pais, deixou
o Funchal, na Madeira, rumo a Brockton. A família tinha aqui uma tia que lhes
enviara a carta de chamada e em Brockton se radicaram. “O meu pai dizia
sempre que ia emigrar para o bem dos filhos”, recorda o capitão Emanuel
Gomes, na entrevista que concedeu ao PORTUGUESE TIMES na sede da Polícia de
Brockton.
Três anos depois da aventura necessária da emigração, José Gomes morre e
deixa a mulher, Maria Teresa, viúva e com dois filhos para criar. Emanuel,
depois do liceu, frequentou um colégio comunitário - “éramos uma família pobre e não podia pensar em grandes universidades”, conta. “Eu cheguei a mentir a idade para poder trabalhar à noite e estudar de dia. Depois, no colégio, fiz o inverso”. Aos 13 anos, com efeito, já fazia limpezas e trabalhava em bombas de gasolina para ajudar a sustentar a família.
Após o colégio, resolveu fazer os testes de admissão aos bombeiros e à polícia. Foi bombeiro em Brockton durante um ano, até que os resultados da polícia chegassem. Quando vieram, teve ofertas para entrar nas polícias de estado em Massachusetts e Connecticut, e até em departamentos na Flórida.
Preferiu ficar em Brockton, onde há 17 anos começou como agente de patrulha nas suas já então violentas ruas nocturnas. Tinha apenas 23 anos e via assim começar um sonho antigo ...
— Lembro-me de já na Madeira querer ser polícia, — confessa, — sempre tive gosto por esta actividade.
Depois de agente fardado de patrulha passou a detective à paisana. Cinco anos depois, acumula a experiência de uma passagem pela Roger Williams University (onde se formou em criminologia) e chega a sargento, em comando do corpo de detectives da Polícia de Brockton. Não pára mais: vai a tenente e depois a capitão, patente que consegue juntar ao currículo em Abril deste ano. Com essa posição, acumula o cargo de Comissário para o Pelouro do Trânsito, o que o coloca em posto de grande responsabilidade, obrigado a tomar todas as decisões relativas ao tráfego na cidade de 100 mil habitantes, que foi no passado a ‘capital do calçado na América’.
A hierarquia policial em Brockton começa, no topo, com o chefe, seguindo-se seis capitães (sendo Gomes um deles), 12 tenentes e 20 sargentos. “O resto é a nossa tropa”, caracteriza o madeirense, referindo-se aos 200 agentes que hoje o departamento emprega. O português é um idioma que, em Brockton, importa saber. A comunidade cabo-verdiana é extensa - maior que a portuguesa - e os avisos à entrada da esquadra estão escritos em inglês, português e crioulo. O capitão Gomes lembra-se dos seus tempos de patrulha, quando apenas ele falava português em todo o efectivo policial de Brockton. “Era chamado para resolver problemas domésticos”, lembra-se. Actualmente, a Polícia inclui 4 agentes cabo-verdianos.
Brockton é, ainda hoje, conhecida pela sua violência nas ruas. A criminalidade atinge níveis assustadores, em consequência directa da depressão económica que varreu da urbe fábricas e proprietários de casas.
“Todas as cidades têm os seus problemas, e Brockton não é diferente”,
explica o capitão Emanuel Gomes. “Temos problemas com drogas e, atrás disso, vêm os crimes violentos”. Para combater a situação, a Polícia de Brockton
pediu subsídios federais e aumentou o seu número de efectivos de 130 para 200. “Lembro-me de, na altura em que fazia patrulha, só estarmos 3 ou 4 agentes nas ruas à noite, a aguentar com uma cidade com 100 mil habitantes onde o desemprego reinava”, recorda. “Hoje respondemos a todos os pedidos de
ajuda com mais eficiência e temos unidades de bicicleta e mota e polícias nas escolas”.
Ainda assim, só no ano 2002, já se registaram em Brockton 11 homicídios. Mas nada assusta Emanuel Gomes. “Isto para mim é a minha freguesia”, diz, em bom português. “Tenho aqui a minha família, a minha mãe continua a viver em Brockton. Passámos dificuldades, mas somos uma família muito unida”.
Conselhos para a juventude?
— Nunca percam o orgulho nas vossas raízes, mas integrem-se na sociedade americana. E sobretudo nunca parem de aprender.



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