Portugal é hoje o país da União Europeia com mais emigrantes em proporção da população residente. O número de emigrantes portugueses supera os 2 milhões, o que significa que mais de 20% dos portugueses vive fora do país em que nasceu. Estes dados são provenientes do Relatório Estatístico 2015 do Observatório da Emigração.
A emigração portuguesa tem sido uma constante desde a II Guerra Mundial. No entanto, entre 2010 e 2013, o número de saídas de Portugal cresceu mais de 50%. É preciso recuar a 1973 para se encontrar valores para a emigração nas mesmas proporções. Em 2013 a taxa de desemprego na camada jovem atingiu os 38% nesse mesmo ano. É impossível não associar o factor desemprego a níveis tão altos de emigração. Paralelamente, a imigração diminuiu. Hoje em dia, são mais os estrangeiros a viver em Portugal e que regressam aos seus países de origem, do que aqueles que se fixam de novo no país.
O Reino Unido é o país para onde emigram mais portugueses: 30 mil em 2013, 31 mil em 2014. Seguem-se, como principais destinos, a Suíça (20 mil em 2013), a França (18 mil em 2012) e a Alemanha (10 mil em 2014). Os países escandinavos também têm recebido cada vez mais emigrantes portugueses, em particular mão de obra qualificada, sendo a Noruega o país que mais acolhe portugueses.
Falar em emigração das camadas mais jovens é falar em crise. A estagnação do crescimento económico em Portugal que se seguiu à entrada no Euro, a consequente pressão depressiva sobre o investimento público e o aumento do desemprego traduziram-se num crescimento da emigração nas duas primeiras décadas do século XXI. Esse crescimento seria interrompido com a crise de 2008 e regressaria, agora com mais intensidade, a partir de 2010. Numa primeira fase, entre 2008 e 2010, a natureza global da crise financeira traduziu-se num decréscimo da emigração portuguesa. Desde 2010, os efeitos da chamada crise das dívidas soberanas e os efeitos recessivos das políticas de austeridade, a emigração passou a crescer mais do que antes da crise.
O “boom” a que se tem assistido a nível da emigração é composto maioritariamente pela geração milénio. A geração milénio por norma refere-se ao conjunto de pessoas nascidas entre o início dos anos de 1980 e o início dos anos 2000. Esta geração também é conhecida por geração Y, pois vem a seguir à geração X – a geração de pessoas que nasceu entre o início dos anos 1960 e dos anos 1980. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, há um fosso geracional a nível dos rendimentos. Em 20 anos a desigualdade de rendimentos em relação à população ativa mais velha tem vindo a piorar. Olhando apenas para a evolução dos salários entre 2009 e 2013, a partir dos Quadros de Pessoal do Ministério do Trabalho, conclui-se que todos os portugueses em idade ativa viram diminuir o ganho médio mensal. Mas a perda foi desigual, sendo os jovens mais penalizados do que a geração mais velha.
A geração milénio tem uma grande quantidade de fatores contra ela. Conforme evidenciado pelo Expresso, o desemprego, a precariedade, os baixos salários e a instabilidade profissional condicionam o presente e hipotecam o futuro da maior parte dos jovens nascidos nas décadas de 80 e 90. A expectativa de independência financeira ou de constituir família é cada vez mais adiada, levando a um aumento da emigração e à descrença num futuro no nosso país.
Apesar de todas estas causas, ainda surgem alguns motivos curiosos para a emigração. Muitos jogadores profissionais de poker optaram por sair de Portugal para países onde os rendimentos podem ser maiores. Em países como a República Checa, um jogador pode aceder a uma plataforma de jogo, como a da PokerStars, por exemplo, e jogar contra qualquer pessoa no mundo, aumentando assim as verbas envolvidas. Atualmente, em Portugal só é permitido jogar com outros portugueses.
A questão que se impõe é se os emigrantes portugueses algum dia regressarão a Portugal.