A necessidade de acabar com o conceito, quase sempre pejorativo, de emigrante e criar o hábito de os vermos como portu-gueses que foram traba-lhar para o estrangeiro, pode parecer um preciosismo, mas resulta sempre como um estigma. A associação «Rosa Azul» está empenhada em apoiar todos os compatriotas. Teresa Rosmaninho, é a responsável pela organização.
Maria José Guedes (textos)/Carlos Machado (foto)
«Rosa Azul» por quê?
Foi o nome que nos surgiu porque é um pouco a busca do impossível. Todos nós sabemos que se tem tentado criar uma rosa azul, mas que tem sido impossível. Um destes dias isso vai ser possível. E, portanto, a nossa jovem associação «Rosa Azul», que quer trabalhar em Portugal a favor dos portugueses que estão espalhados pelo mundo, pretende agarrar uma missão que até agora tem sido um pouco impossível.
Esta associação não nasceu agora…
Nasceu aqui no Porto, em finais de 2004, mas é uma associação que quer já começar a fazer uma série de coisas, das quais a mais importante são os debates que estamos a promover com as autarquias e que começaram este ano. E tem sido fantástico como primeiro pontapé de saída para termos pessoas especialistas, homens e mulheres, que há anos que trabalham nestas áreas da emigração. São profissionais nas suas diferentes áreas, investigadores, políticos, docentes… Queremos acima de tudo aprender com eles. O grande objectivo é que em 2007, durante a presidência portuguesa da União Europeia, possamos organizar um congresso internacional com os portugueses no Mundo. Estamos agora a dar os primeiros passos e a ensaiar com estes colóquios.
Nos debates os temas passam apenas pelo papel da mulher na emigração?
Não, o objectivo é conhecermos melhor a nossa diáspora, e saber qual é o papel que as mulheres tiveram na emigração. Tiveram e têm nos fluxos migratórios actuais.
É difícil avançar com um projecto como o da Rosa Azul?
Na altura, em 2004, candidatámo-nos a um projecto aprovado pela comissão para a igualdade e para os direitos das mulheres - Presidência do conselho de ministros -, porque tem fundos portugueses e europeus, o que nos permitiu este primeiro arranque. Mas interessante é que temos notado que ultimamente as televisões, rádios, revistas e jornais, têm começado a dar a devida importância àquilo que se chama os portugueses e portuguesas de sucesso no mundo. E começou-se a falar das histórias de sucesso dos portugueses que podem ser importantíssimos para o nosso desenvolvimento aqui em Portugal. Para o nosso desenvolvimento cultural, cientifico, económico, social. São portuguesas e portugueses de sucesso no mundo que podem ser grandes embaixadores do País e manter as ligações connosco.
Até para acabar com a ideia que dita que o que exportamos de bom é só futebol.
Nós temos excelentes pessoas, como temos visto em todo o mundo. Claro que o futebol também tem sido interessante. É interessante reparar agora com o mundial… As comunidades portuguesas no mundo têm sido fantásticas, mas também é preciso não esquecer, e a Rosa Azul também pensa nessas pessoas, nos portugueses que emigraram e que a vida não lhes foi fácil. E não lhes correu bem. E que provavelmente querem regressar e não têm muitas condições. É importante que num concelho onde haja muita emigração, se as pessoas estiverem a pensar, se os autarcas estiverem a pensar numa parceria com a Segurança Social, criar uma residência sénior, uma residência para idosos, que haja alguns lugares guardados para esses portugueses que querem regressar e que não têm condições para o fazer, que não têm para onde ir.
Qual o papel das embaixadas portuguesas?
Sabemos que a burocracia é uma complicação para todos. Tudo o que seja feito para colocar um melhor e mais próximo serviço dos cidadãos é bom e deve ser feito. Sabemos que há dificuldades em vários sítios e esperamos sinceramente que muitas das coisas possam ser reformuladas e melhoradas.
Os emigrantes que regressam, a Rosa Azul sabe como estão?
Nós vamos sabendo aquilo que normalmente é noticiado. Não é nossa função particularizarmos, mas na altura da questão dos emigrantes do Canadá, disponibilizamos aqui no Norte alguma ajuda no sentido de as enquadrar e de as reencaminhar para os seus lugares. Felizmente não foi necessário, os serviços acabaram por funcionar. Nunca é demais lembrar que há portugueses que podem querer regressar e que não têm muitas condições e sublinho novamente a importância da criação das residências sénior. Por exemplo, era importante também os jovens luso-descendentes a regressarem a Portugal para estudarem. Achamos que era importante promover residências universitárias para luso-descendentes. Por exemplo, era importante criar universidades de Verão. Achamos que é muito interessante retomar, (a Universidade de Aveiro fez isso) esse conceito.
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“Não podemos desprezar tantos portugueses que estão no mundo”
Uma das preocupações da Rosa Azul, é o relacionamento entre Portugal e os outros países, ou seja, o relacionamento com as novas gerações.
Os jovens filhos de portugueses obviamente vão continuar ligados a Portugal, mas se nós não promovermos essa ligação, afectiva, cultural, de diversão ou de estudo, obviamente que, com o tempo, vão perder essas ligações. O Erasmus é um programa de grande sucesso em Portugal. Queremos um Erasmus ao contrário. Que os luso-descendentes viessem e gostassem de estar aqui.
Não podemos desprezar tantos portugueses que estão no mundo e que são nossos aliados. São quatro milhões e seiscentos mil, um terço dos quais são mulheres, pelo menos. Temos de ser criativos e fazer aquilo que fazem os italianos. Eles têm um Ministério dos Italianos no Mundo. De dois em dois anos fazem congressos temáticos, para juntar os italianos que estão espalhados em todo o mundo e que continuam a ser a quarta ou quinta geração, mas que continuam a ser italianos. Ainda têm aquela ligação que é promovida através de várias coisas. É isso que penso que nós temos que fazer e deixar um pouco de lado a noção do emigrante da mala de cartão, isso já era.
Um terço da população que está emigrada são mulheres…
E é interessante aquela perspectiva das mulheres em França que se integraram. Elas integraram-se mais rapidamente porque ficaram a trabalhar em casas ou começaram com as consiérges portuguesas de há muitos anos que todos nós conhecemos, e que muito rapidamente aprenderam a língua. Enquanto os homens mantiveram o contacto com os homens portugueses, e não aprenderam a língua, as mulheres, pela sua actividade como mulheres e como mães integraram-se muito mais rapidamente, e são elas agora que não querem voltar, até porque nesses países há muitos anos que a questão dos direitos das mulheres é bastante avançada. Estávamos atrasados em Portugal.
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Próximos debates
21 de Junho – Fafe
«Investigação científica sobre emigração portuguesa»
Oradora: Prof. Drª. Beatriz Rocha Trindade
29 de Junho – Marco de Canavezes
«Mulheres portuguesas no mundo: o caso do Reino Unido»
Oradora: Drª. Maria Amélia Estrela
6 de Julho – Matosinhos
«Direitos dos trabalhadores portugueses no estrangeiro»
Orador: Dr. Fernando Maurício
13 de Julho – Penafiel
«Comunidades: espaço de afirmação de Portugal»
Oradora: Drª. Ana Gomes
20 de Julho – Póvoa de Varzim
«Comunidades: Novas questões sociais»
Orador: Padre Rui Pedro
14 de Setembro
«Atracção do investimento de emigrantes»
Orador: Dr. Basílio Horta
21 de Setembro
«A minha pátria é a língua portuguesa?»
Oradora: Drª Maria Isabel Barreno
28 de Setembro
«Novos fluxos migratórios de portugueses»
Orador: DR. Miguel Portas