A 14 de Março, será a segunda vez de José Alves. Nas próximas eleições gerais espanholas, vai votar Partido Popular (PP). "Era do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), mas, após viver todos os escândalos, especialmente os financeiros, dos mandatos deles, fiquei desiludido".
Transmontano de Miranda do Douro, o proprietário dos restaurantes Trás-os-Montes e Don Sol (actualmente, entregue à exploração) vive há 28 dos seus 45 anos em Madrid. "Tenho dupla nacionalidade, mas olhe que nos primeiros oito anos estive clandestino, só tinha o bilhete de identidade. Também, nunca me pediram documentos alguns", diz ao "Jornal de Notícias", apoiado num sorriso sereno.
Talvez por isso, considera os espanhóis um povo "acolhedor", que "jamais" lhe causou problemas. No entanto, teve tempos "difíceis", os ulteriores à morte do ditador Franco, na década de 70: "Durante os anos de transição para a democracia, houve situações complicadas, de muita instabilidade social".
É casado com Maria da Graça Rodrigues e tem três filhos, dois dos quais, os mais velhos, frequentam a universidade. "Ela chegou cá seis meses antes de mim, conhecemo-nos aqui". Curiosamente, "vivíamos a 40 quilómetros um do outro e os nossos pais eram muito amigos", em Portugal.
Na sua perspectiva, a Espanha de hoje é "muito melhor". José Maria Aznar, actual primeiro-ministro, "é um homem sério e transmite confiança, o que julgo que Mariano Rajoy também conseguirá", afirma.
É irreversível, portanto, a renúncia ao PSOE... "Votaria de novo neles se me pudessem garantir, de coração, que o que aconteceu com Felipe Gonzalez nunca mais ocorreria. Por exemplo, ele pôs à frente da Guardia Civil um homem, Roldan, sem estudos e que
roubou milhões de pesetas".
De qualquer forma, José Alves ressalva que o Executivo do PP também não se livra de passos incorrectos: "A intervenção na guerra do Iraque, em apoio dos Estados Unidos, e o caso do navio Prestige, processo muito mal conduzido, foram extremamente negativos".
Aliás, "se o Governo português não se tem prevenido, os espanhóis mandavam o barco para lá".
Acerca do contexto político luso, o ex-emigrante em França - por onde passou antes de chegar a Espanha - considera que Durão Barroso, o primeiro-ministro, "apanhou com a crise profunda desencadeada pelo Governo do Partido Socialista. É uma herança pesada". Porém, julga que António Guterres, antigo chefe do Executivo, "era um político mais sério do que Felipe Gonzalez".
Impressões provenientes do acompanhamento da actualidade portuguesa através da televisão por satélite ("vejo os noticiários e mais alguns programas").
Apesar de classificar o dossiê Casa Pia como uma "aberração total", repudia, "por completo", o conceito de uma Ibéria (assente na unificação de Portugal e Espanha). "Portugueses e espanhóis são muitíssimo diferentes".
Entretanto, José Alves planeia comprar uma casa no litoral, embora não encare a hipótese de se radicar definitivamente no país do qual partiu após chegar à conclusão de que nele "não havia nada". "Estava no 4º ano do liceu, em Sintra, vivia com parentes, e, no início das aulas, só tinha dois professores, de Educação Física e de Religião. Perguntei-me: 'o que faço aqui?' e saí de Portugal.
O restaurante Trás-os-Montes é, ostensivamente, português. "Esse facto garante 50% do meu sucesso. Recebo aqui ministros, secretários de Estado, juízes. Dizem-me que se sentem bem, conhecem os vinhos de Portugal, os pratos...".
Dos compatriotas, já registou a presença de Carlos Queiroz, treinador do Real Madrid - "veio cá três vezes" -, e de Nabeiro, proprietário dos Cafés Delta. Luís Figo, também do Real, "encomendou uma caixa de Barca Velha de 1985 e prometeu que,
quando eu a tivesse, vinha aqui".
O empresário deixa escapar um fogacho de orgulho e acrescenta: "O Trás-os-Montes foi considerado o melhor restaurante estrangeiro do ano passado pelo Trade Leaders' Club e um dos mais recomendáveis pelo jornal 'El Mundo'".
Emanuel Carneiro in JN