Cerca de 50 empresários da área do Parque Natural de Montesinho escreveram a várias entidades portuguesas a alertar para os perigos de uma exploração mineira espanhola e o Turismo de Portugal fez eco das preocupações, divulgaram hoje os promotores.
Em causa está a reabertura de uma mina de estanho e volfrâmio a céu aberto, na zona de Calabor, em Espanha, a menos de cinco quilómetros da fronteira com Bragança, o concelho, que junto com Vinhais, fazem parte do Parque Natural de Montesinho.
Numa altura em que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) está a analisar o projeto, o Turismo de Portugal fez chegar a este organismo as preocupações “sobre o forte impacte negativo para o setor”, defendendo que “deverão ser ponderadas na tomada de posição daquela entidade no âmbito da pronúncia transfronteiriça de Portugal”.
O Turismo de Portugal foi uma das várias entidades, entre municípios, grupos parlamentares, Governo, organismos públicos e outros regionais e nacionais a quem o grupo de empresários em enviou, em fevereiro, um alerta para “as graves consequências que o projeto mineiro a céu aberto representa para o meio ambiente, economia e imagem do Nordeste Transmontano”.
“Ficamos contentes com esta posição do Turismo de Portugal porque representa um argumento público que reforça e defende os interesses dos empresários e da economia local”, afirmou à Lusa, António Sá, um dos promotores da iniciativa.
O promotor que é também empresário na área do turismo de natureza destacou o papel deste organismo que “deu-se ao trabalho de recolher informação, analisar o Estudo de Impacte Ambiental e ouviu os empresários, e deu seguimento a um pedido, a uma preocupação dos empresários”.
Os empresários subscritores da iniciativa aproveitam “para pedir novamente à Agência Portuguesa do Ambiente que tenha estes argumentos em consideração e que, em nome do Estado português, emita um parecer final negativo a este projeto, totalmente incompatível com a imagem da região, as suas legítimas aspirações económicas e ambientais, e com o próprio interesse nacional”.
Os contestatários lembram que todo o Nordeste Transmontano e o Parque Natural de Montesinho, o mais próximo da zona para onde está projetada a mina espanhola, tem “uma estratégia de turismo ancorada na Natureza e uma série de empresários a desenvolverem atividade” neste setor, que entendem que “a ameaça” das minas “põe em causa esta estratégia”.
António Sá referiu à Lusa que “as consequências mais negativas” deste projeto espanhol “estão para o lado português”, nomeadamente para a biodiversidade da área protegida contígua com Espanha, assim como para os cursos de água, na medida em que “drenam todos para o lado português, são afluentes do rio Sabor”.
O empresário acrescenta ainda o impacto do ruído devido aos explosivos e a emissão de poeiras.
“Numa altura em que o processo ainda se encontra em análise por parte do Governo de Portugal, em virtude da Avaliação de Impacte Ambiental Transfronteiriça e da Consulta Pública que se seguiu, os empresários subscritores desta iniciativa vêm congratular-se com o parecer entretanto emitido pelo Turismo de Portugal e com a respetiva recomendação à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), entidade responsável pela decisão final que será transmitida ao governo de Espanha”, salienta o grupo.
Os empresários citam a exposição feita pelo Turismo de Portugal à APA, que “destaca os efeitos que este projeto mineiro pode vir a ter no território, caso seja concretizado, com impactes expectáveis no setor do turismo, desde logo ao nível da paisagem, bem como do ruído e vibrações, afetando negativamente a crescente procura turística na região, que acolhe um elevado e crescente número de visitantes no segmento de Turismo da Natureza e Familiar”.
O documento sustenta ainda estas preocupações com estatísticas “que confirmam o concelho de Bragança com um crescimento sólido na procura turística, superior à média nacional e à região Norte, e alerta para o facto da exploração se situar próximo do Parque Natural de Montesinho e da aldeia comunitária de Rio de Onor, inserindo-se ainda em área abrangida pela Reserva da Biosfera Transfronteiriça da Meseta Ibérica (UNESCO)”, que já se manifestou também contra o projeto espanhol.
O Turismo de Portugal concretiza que “no período 2014-2018, em Bragança, o aumento do número de hóspedes foi de 45,94% (+17.967), de dormidas de 38,90% (+36.759) e dos proveitos das unidades hoteleiras de 83,95% (+1,51 milhões de euros).