A Associação dos Industriais do Granito (AIGRA) lançou hoje um alerta para a falta de mão-de-obra que afeta empresas do distrito de Vila Real e está a dificultar a resposta ao aumento das encomendas neste setor.

“A nossa indústria, apesar da crise pandémica e económica, conseguiu taxas de crescimento em 2020”, afirmou à agência Lusa Mauro Gonçalves, dirigente da AIGRA, sediada em Vila Pouca de Aguiar.

Até 2019, segundo o responsável, o setor da extração e transformação de granito estava a registar um crescimento na ordem dos 15%, em faturação e exportações. No ano passado, atingido pela covid-19, o crescimento foi de 4%, “menor, mas ainda assim positivo”.

O distrito de Vila Real extrai “metade” do granito do país, mas, segundo Mauro Gonçalves, “não tem resposta para tanta procura”.

“Existe uma forte procura e existe uma falta de oferta, o que se deve à falta de produção. Nós queremos produzir, temos muita solicitação e falta-nos pessoal para trabalhar”, frisou.

Segundo o responsável, as empresas do distrito lutam para “inverter a situação” e, nas suas contas, “cada firma precisa, pelo menos, da entrada imediata de dois trabalhadores”.

Há ainda empresas que estão a oferecer, para além do salário e subsídio de alimentação, alojamento, água, luz e Internet.

“Quereremos produzir mais para dar resposta às encomendas e não conseguimos. A economia fica presa, não há crescimento”, sublinhou.

Mauro Gonçalves apontou duas “grandes preocupações”, uma resultante da “burocracia” que está a dificultar a vinda de imigrantes e refugiados para o território e ainda a reforma antecipada.

O empresário explicou que trabalhadores com 32 anos de serviço no setor podem pedir a reforma aos 55 anos de idade.

A média de idades, atualmente, nestas empresas ronda os 50 anos, pelo que Mauro Gonçalves antevê que o setor possa perder “entre 200 a 300 trabalhadores até 2025/26”.

Em julho de 2020 foi anunciado um projeto-piloto para o concelho de Vila Pouca de Aguiar que tem como objetivo a integração de famílias de refugiados para dar resposta à falta de mão-de-obra na indústria de extração e transformação de granito.

Para operacionalizar este projeto-piloto decorreu, naquela altura, uma reunião de trabalho que juntou a AIGRA, o município de Vila Pouca de Aguiar, as secretárias de Estado para a Integração e as Migrações e a da Valorização do Interior e o Alto Comissariado para as Migrações.

Numa primeira fase, segundo Mauro Gonçalves, previa-se a vinda de “seis famílias” de refugiados.

“E, até hoje, nada aconteceu. O que se passa não sei, dizem que pode ser por causa da crise pandémica, de burocracia, mas ainda nada se traduziu na prática”, salientou.

Paralelamente, em conjunto com algumas instituições, como, por exemplo, o Alto Comissariado para a Migrações, a AIGRA está a trabalhar no sentido de atrair trabalhadores estrangeiros ao território.

No entanto, Mauro Gonçalves lamentou a burocracia inerente que torna os processos morosos.

“Uma empresa que precise de funcionários em janeiro não pode receber esses funcionários em abril, não é assim que a economia e as empresas trabalham, ou seja, os processos têm que ser mais rápidos”, salientou.

Exemplificou com a sua empresa, onde já trabalham imigrantes do Paquistão, Brasil e Nepal e referiu que, um deles, trabalhava num restaurante no Porto, ficou sem emprego e decidiu vir para a indústria do granito.

Apesar de o trabalho numa pedreira ser duro e ao ar livre, o responsável apontou a evolução e modernização no setor, que já é muito mecanizado.

Mauro Gonçalves disse que a nível do distrito de Vila Real há cerca de 750 pessoas a trabalhar no setor, menos meia centena do que no ano passado, dispersas por mais de 60 empresas ligadas à indústria extrativa e transformadora.

A faturação anual ronda os “50 milhões de euros anuais”, dos quais 50% são referentes a exportações.



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