Dois grupos de danças tradicionais que usam paus, um português e um britânico, inteiramente formados por mulheres vão atuar juntos em 01 de fevereiro na aldeia de Moredo, no concelho de Bragança, num evento celta.

O grupo Wild Moon Morris vai viajar do sudeste de Inglaterra para participar numa celebração do Imbolc, a data no calendário celta que marca o fim do inverno e o início da primavera, em conjunto com as Pauliteiras de Malhadas, de Miranda do Douro, no distrito de Bragança.

A deslocação chegou a ser motivo de uma moção no parlamento britânico pela deputada Sarah Dyke para louvar o grupo por, "através da sua forma contemporânea de dança Morris, ajudar a preservar o património cultural celta, promover o envolvimento da comunidade e celebrar as mudanças sazonais através da música, da coreografia e do folclore".

O evento, marcado para o fim da tarde, inclui a participação de Caretos da aldeia de Salsas, acompanhados pela tradicional gaita-de-foles portuguesa, a coroação da uma cerimónia de abertura feita por uma druidisa de Glastonbury, ordenada pela Ordem dos Druidas de Stonehenge.

Durante a mesma celebração, a organizadora, a atriz Ana Telma Rocha, vai ser coroada simbolicamente como Cartimândua, a rainha dos brigantes, tribo celta que viveu no norte de Inglaterra e que terá fundado a cidade de Bragança, nome derivado de Brigância.

Apoiado pelas autarquias de Bragança e Glastonbury, o evento pretende marcar a inauguração do centro de interpretação celta de Salsas, uma ideia que Rocha desenvolveu após regressar do Reino Unido para "voltar às origens" e viver na aldeia dos avós.

"Há uns anos vim-me embora de Inglaterra por causa do Brexit, mas decidi trazer os meus amigos comigo e fazer um buraco naquela parede. Como tinha vivido na Escócia, Irlanda, país de Gales, comecei a encontrar um território comum, não de língua, mas de uma maneira de ser", contou à agência Lusa.

Telma Rocha percebeu que a cultura celta é partilhada pelos transmontanos, irlandeses, Yorkshire, no norte da Inglaterra, e escoceses e pensou em "montar mesmo um campo, uma tribo em Trás-os-Montes nos dias de hoje".

"Vamos criar um evento onde o público veja que há mais coisas que nos unem do que diferenças. É uma experiência social. Já não conseguimos falar, porque estamos todos ocupados com as plataformas [eletrónicas], esta é uma forma de reconectar com o nosso passado ancestral", salientou.

A reunião dos grupos de "pauliteiras" de dois países diferentes foi uma forma que encontrou para mostrar a existência de uma cultura comum, embora com "um visual diferente".

Apesar de partilharem o uso de paus, os dois grupos são bastante distintos, já que as praticantes britânicas da dança folclórica 'morris' vestem-se de preto e têm um estilo "gótico", enquanto as portuguesas usam roupas tradicionalmente brancas com bordados.

"São distintamente diferentes visualmente, mas, quando elas dançarem, vão perceber que têm imensas coisas em comum", garante a organizadora.

Graduada em representação na London Academy of Music and Dramatic Art, em Londres, e na Escola Jacques Lecoq, em Paris, Ana Telma Rocha integrou a produtora teatral britânica Get Over It Productions no Reino Unido, só formada por mulheres.

Em paralelo, manteve atividade como auxiliar de saúde privada.

No futuro, Telma Rocha quer continuar a assinalar datas especiais do calendário celta com representantes da Escócia, Galiza, Bretanha e Irlanda na aldeia transmontana de Salsas, para "celebrar a cultura celta numa linguagem internacional e transfronteiriça". 


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