«Se me disserem que, saindo o presidente da Casa do Douro (CD), os problemas se resolvem, eu saio. Mas vamos ao notário com um documento para ficar tudo bem assente, porque não acredito neles. Eles querem é cordeirinhos!».

A resposta de Manuel António dos Santos, presidente da CD, a quem aponta a liderança da instituição como fonte principal dos problemas da CD é irónica. E reveladora, porque mostra a que ponto chegou a divisão entre as partes que têm nas mãos a chave da questão.

Usando a perda de competências e a falta de indemnizações compensatórias como exemplo do \"mal\" que os sucessivos governos têm feito à CD, Manuel António critica o \"amesquinhamento das pessoas e instituições\" da região promovido por quem, na sua opinião, não está interessado na criação de um \"clima de paz\" na região.

Em relação ao actual Executivo, revela ter mantido \"conversas\" com o ministro da Agricultura, Jaime Silva . \"Não notei sinais que apontem para a criação de uma parede\", refere. Ainda assim, as \"lições do passado obrigam a CD a olhar todas as medidas que lhe são propostas com desconfiança\".

O círculo vicioso com que a instituição se debate (menos receitas e competência e incapacidade para vender os seus vinhos) não tem saída fácil. \"Os nossos vinhos estão condenados à prisão perpétua. Como vamos pagar as dívidas sem os vender?\". \"Tratam-nos como se fÎssemos bichos do monte, e isso é uma ofensa\", atira o presidente da CD. \"Ou voltamos a ter capacidade para vender o vinho ou temos que encontrar outras soluções. Defendemos, por exemplo, a criação de um novo organismo que constitua uma empresa exemplar que coloque vinhos no mercado. Era importante que as cooperativas, os viticultores independentes e os produtores-engarrafadores soubessem agarrar esta oportunidade para que as mais-valias do vinho do Porto ficassem na região. A concentração no comércio tem que ter como resposta a concentração no Douro. O Douro não pode ficar com as migalhas!\".

Também Mesquita Montes, que esteve à frente da CD de 1975 a 1998, critica \"os governos por não cumprirem a sua quota-parte de responsabilidade\". Embora acusando os executivos de recorrerem a \"mentiras\" para justificar a falta de intervenção na CD, Montes entende que o \"descalabro\" da instituição começa quando o Governo decreta a nulidade do negócio com a Real Companhia Velha (RCV). \"O Governo só reconheceu o erro que cometeu em 2004. Hoje, ainda dizem que não têm responsabilidades. Como é que é possível?\"

Se voltasse atrás, o ex-presidente da CD teria optado por comprar a maioria da RCV. \"Teríamos outra margem de manobra para negociar\". Talvez a história tivese sido outra.

Seja como for, Montes entende que o tempo lhe deu razão. \"Hoje, o Governo defende a concentração de adegas. O que pretendíamos fazer com a compra da RCV era exactamente ganhar dimensão\".



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