Escavações arqueológicas na Necrópole Medieval das Touças, em Sabrosa, revelaram uma fivela em bronze que pode indiciar a ocupação visigótica em Trás-os-Montes, um achado considerado “inédito” pelos arqueólogos e estudantes que trocam as férias pelo trabalho no campo.

Pelo terceiro verão consecutivo, a Necrópole Medieval das Touças, perto da aldeia de Garganta, no distrito de Vila Real, está a ser alvo de escavações por parte da Associação de Arqueologia de Sabrosa.

“É um sítio conhecido há mais de 100 anos. A primeira referência foi em 1912, mas não teve trabalhos de investigação. É um sítio extenso, complexo que tem várias épocas, desde a Alta Idade Media até, mais ou menos, ao final da Baixa Idade Média e tem, também, alguns indícios de ocupação anterior, pré-romana, mas ainda estamos a estudar”, afirmou hoje à agência Lusa o arqueólogo Gerardo Vidal Gonçalves.

Os trabalhos em curso neste verão envolvem uma equipa de 15 pessoas, entre os arqueólogos e estudantes de arqueologia que trocam as férias neste mês de agosto pelas escavações.

“Este ano encontramos uma peça fantástica. É uma fivela de cinto, uma fivela liriforme em bronze, que terá origem visigótica e é uma peça extremamente rara na região”, acrescentou o investigador.

Os pesquisadores acreditam que este artefacto corresponde aos séculos VI, VII e VIII depois de Cristo e que sugere a possibilidade de ocupação visigótica na zona de Trás-os-Montes, considerando que se trata de “um achado inédito”, visto que até à data “não havia registos da mesma nesta região”.

“E faz-nos recuar um pouco aquilo que tínhamos pensado para este sítio. Poderá ser mais antigo e mais abrangente”, referiu Gerardo Vidal Gonçalves, apontando outras descobertas, como um fragmento de machado em ferro visigótico.

Daniel Madeira estuda arqueologia na Faculdade de Letras do Porto e, neste mês de agosto, optou pelo trabalho de campo.

“Pela experiência que é necessária para o nosso curso, que tem uma parte prática muito importante. É nestas escavações em voluntariado que aprendemos mais”, afirmou o estudante à Lusa.

E o sítio arqueológico em Sabrosa é, na sua opinião, “bastante interessante” e cada vez está a revelar mais interesse com as estruturas que foram sendo encontradas.

“Para quem gosta desta cronologia medieval, tem sido muito bom estar aqui”, frisou.

Joana Araújo, estudante na Universidade de Coimbra, chegou há uma semana a Sabrosa e disse que a experiência “está a ser bastante interessante pelo conteúdo que tem aparecido, pelos vestígios arqueológicos que têm surgido”.

“Pelos vestígios encontrados no trabalho de uma semana consegue-se perceber que realmente é um projeto que tem muito potencial”, afirmou, salientando a experiência conseguida com este trabalho de campo que “funciona muito bem para o currículo”.

A necrópole, também conhecida como “Cemitério dos Mouros”, situa-se junto a um antigo caminho rural que une os lugares de Garganta e Vilar de Celas, estando associada a um antigo povoado aberto, constituído por cinco sarcófagos rupestres, uma sepultura rupestre geminada, um marco de demarcação da antiga Ordem Militar e Religiosa de Malta e mais de 90 ortostatos ou pedras fincadas.

Quando Gerardo Vidal Gonçalves foi, pela primeira vez às Touças, viu sete pedras fincadas. Neste momento estão 108 pedras inventariadas.

É também ali que se assinala o solstício de verão, com uma encenação explicativa do ritual, uma iniciativa que tem como objetivo divulgar o património arqueológico de Sabrosa.

Em 2023, haverá mais uma campanha de escavações e, no final, os investigadores pretendem fazer uma exposição com os achados descobertos nas Touças, que ficará patente ao público no Polo Arqueológico de Garganta.

Mas, segundo Gerardo Vidal Gonçalves, pretende-se também prolongar o projeto por mais quatro anos porque considera que “ainda há muito para descobrir”.

Esta iniciativa conta com o apoio da Câmara de Sabrosa e da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).

Fotos: CMS



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