Desde Junho que uma equipa de 25 elementos, dirigida pela arqueóloga Maria de Jesus Sanches, está a realizar em Palheiros, no concelho de Murça, a sétima campanha de escavações arqueológicas. As escavações vão prolongar-se até ao final deste mês e estão a ser financiadas pelo Programa Operacional de Cultura, pela Câmara Municipal de Murça e pelo Instituto Português de Arqueologia.
Dada a \"importância\" das descobertas feitas no local e todo um passado que ali se revela, a Câmara Municipal de Murça pretende construir um Centro Interpretativo perto do Crasto, de modo a apoiar os visitantes que ali se desloquem para ver este \"pedaço de história\".
\"Entusiasmado\" com o projecto, o presidente da Câmara de Murça, João Luís Teixeira, assegura que \"a autarquia está a prestar todo o apoio possível, logístico e financeiro, para que este Crasto se torne num motivo de atracção turística no município\".
Para levar a cabo a construção do Centro Interpretativo, a Câmara concorreu a um apoio do Programa Operacional de Cultura. Inicialmente o Estado iria comparticipar a obra em 75 por cento, mas acabou por reduzir a sua \"ajuda\" para 50 por cento. Uma situação que o autarca considera \"preocupante\", pois desta forma \"a Câmara terá de conseguir arranjar 400 mil contos\" dos 800 mil que serão necessários. No entanto, João Luís Teixeira garante que \"o museu irá para a frente\", só que \"redimensionado, de acordo com as verbas que o Ministério da Cultura decidiu atribuir ao projecto\".
A construção do Centro Interpretativo e de um parque de estacionamento perto do Crasto de Palheiros iniciar-se-á ainda este ano, prevendo-se que esteja terminado no final de 2003. O Centro, que será construído de forma a ser pouco visível do exterior, pois ficará quase todo enterrado, \"para não prejudicar a própria perspectiva do Crasto\", estará aberto durante seis meses do ano. Para além de um pequeno bar de apoio e instalações sanitárias, contará com um espaço de divulgação e de informação. Neste espaço estará um aparelho de vídeo ou leitor de cd-rom, onde será mostrado aos visitantes um vídeo ou cd sobre o Crasto de Palheiros. Neste será feito uma simulação gráfica à escala, referente a cada uma das ocupações do Crasto, uma com o centro político e religioso no período Calcolítico e outra como aldeia da Idade do Ferro. Será ainda disponibilizado um guia (desdobrável) do local para orientar as visitas, assim como uma publicação promocional de cerca de 30 páginas a cores.
Cinco mil anos de história
No Crasto de Palheiros estão representadas duas épocas distintas. A primeira e mais longínqua, com mais de cinco mil anos, data do calcolítico. Nesta altura, o Crasto seria um centro político e religioso. Maria de Jesus Sanches explica que \"os habitantes desta região, que viviam espalhados pelos povoados da periferia, lapidaram e erigiram uma escultura paisagística única, nela investindo grande esforço construtivo\". Este é também, segundo a especialista, o único centro político e religioso desta época conhecido a norte do Douro.
Através dos estudos realizados no terreno, chegou-se à conclusão que, provavelmente, terá sido um fogo a estar na origem do fim deste centro religioso e político. No entanto, após um abandono de 1700 anos, por volta de 300 antes de Cristo, outras populações indígenas, já da Idade do Ferro, fundaram neste mesmo local um povoado que posteriormente rodearam de pedras fincadas e de duas linhas de muralhas. \"O seu colapso como povoado\", justificou Maria de Jesus Sanches, \"deve ter tido a ver com a efectiva colonização romana que se deu por volta do ano 50 depois de Cristo\". Deste modo, o local exibe nas suas construções pétreas e em sobreposição, construções de duas épocas diferentes, do período Calcolítico e da Idade do Ferro.
O elevado número de objectos em pedra, cerâmica, vidro e metal recuperados no local durante as anteriores seis campanhas de escavações - que decorreram entre 1995 e 2000 - levou a que a Câmara Municipal de Murça desse \"tão elevada importância\" a este Crasto e decidisse construir ali um Centro Interpretativo.