"A época da redução do número de alunos já foi ultrapassada, hoje há alguma estabilidade", explicou ao DTOM António Souto, um dos responsáveis pelo Centro de Área Educativa de Vila Real. No entanto, existem escolas que se encontram isoladas e distantes da sede de concelho devido à geografia agreste do distrito.

Estão distribuídas pelo concelho de Vila Real 89 escolas primárias, e nos últimos três anos não se tem notado uma redução significativa do número de alunos. De todas elas, 35 registaram um decréscimo reduzido de alunos inscritos. Mas a cidade de Vila Real também não ficou fora desta redução de crianças no ensino primário e, nos últimos três anos, das sete escolas do primeiro ciclo aí existentes, três delas "perderam" 45 alunos. Segundo António Souto, esta situação está a inverter-se, mas algumas escolas poderão, no próximo ano lectivo, ficar sem alunos e, por isso, terão de fechar. Uma situação que poderá ocorrer em Magalhã. Duas escolas do concelho de Chaves e uma do concelho de Vila Pouco irão, de certeza, encerrar no próximo ano.

No que toca às infra-estruturas, as escolas do primeiro ciclo continuam a sofrer com as limitações que lhes são impostas. Este ano lectivo já têm um computador, mas os professores não têm mais apoios nesta área. Material didáctico para ser utilizado nos computadores, não há. António Souto considera que as escolas do primeiro ciclo estão, neste momento, "razoavelmente equipadas", mas defende, contudo, que "há ainda muito por fazer".

O facto de muitas destas escolas terem um número reduzido de alunos faz com que "o investimento seja também menor", explicou Licínio Costa, responsável pelo primeiro ciclo no Centro de Área Educativa de Vila Real. Algumas autarquias têm optado por encerrar algumas escolas e agrupá-las numa só, mas nem todas acreditam neste tipo de projecto, optando por manter abertas escolas com um número muito reduzido de alunos.

Três alunos em Magalhã

Não é muito fácil chegar à pequena localidade de Magalhã. A estrada é extremamente estreita e, para quem não conhece a localidade, nunca se sabe se ela tem fim ou se leva a algum lado. A escola aí situada alberga, neste momento, apenas três alunos e, caso nenhum deles chumbe, para o próximo ano lectivo ficará sem crianças.

Delmina Alves lecciona actualmente nesta escola e é com dedicação que se entrega ao ensino das três crianças. Lúcia (9 anos), Andreia (11 anos) e Ricardo (10 anos) são, provavelmente, as últimas crianças a estudarem na velha escola de Magalhã. A população desta localidade, como em muitas aldeias do distrito de Vila Real, está envelhecida, e é muito raro, nestes locais, encontrar crianças pequenas.

Lúcia, Andreia e Ricardo estão todos no quarto ano e dizem gostar do facto de serem tão poucos na escola. Nas brincadeiras do recreio não têm quaisquer problemas. Ricardo, o único rapaz entre duas raparigas, tem de se sujeitar às brincadeiras escolhidas pelas colegas, mas não se importa, porque "elas também jogam futebol" com ele.

"Não tem sido fácil" para a professora quebrar a monotonia nesta escola. "Tenho que ser muito imaginativa para encontrar sempre algo para eles fazerem", explicou Delmina Alves. Um ponto positivo nesta situação é o facto do professor poder dispensar mais tempo a cada um dos alunos. "Posso ir mais de encontro às dificuldades que eles possam ter e ajudá-los a superá-las", explica a professora. No entanto, o reduzido número de alunos não facilita a socialização e a competitividade, essenciais ao seu desenvolvimento. Apesar disso, Delmina Alves descreve os seus alunos, com quem mantém uma relação bastante próxima, como "muito comunicativos e desinibidos, apesar do meio onde vivem".

Escola é uma "mais valia"

A pequena localidade de Jorjais, também no concelho de Vila Real, tem, neste momento, apenas dois alunos. Uma das crianças, de 13 anos, está na quarta classe, e a outra, de seis, frequenta o primeiro ano. "Não é muito aliciante dar aulas a tão poucos alunos", afirma Nema Almeida. "As crianças não têm referências e não podemos estipular comparações". O facto de serem alunos de anos diferentes complica ainda mais a situação, pois, assim, não podem competir entre si, algo que, segundo os professores, "é saudável para uma boa aprendizagem". O facto de poder dedicar-se por completo ao ensino destas duas crianças é, para Nema Almeida, "um factor positivo", principalmente neste caso, em que elas têm problemas de aprendizagem.

A professora diz lutar "constantemente" contra a monotonia e afirma que nunca a deixa passar para os alunos, procurando sempre algo para os ocupar. Para o próximo ano, a escola já contará com oito crianças e, apesar do número não ser ainda muito elevado, a situação já se alterará.

Nema Almeida não concorda com a ideia de se fecharem escolas e colocar as crianças todas numa porque, segundo ela, "a escola é uma mais valia para a aldeia e, caso a fechem, as pessoas sentirão a sua falta". A população de Jorjais é maioritariamente idosa e, muitas vezes, as pessoas procuram a professora para ajudar a resolver diversos assuntos, como por exemplo a leitura de correspondência.

Ao contrário de Magalhã, a continuidade da escola de Jorjais está garantida com a entrada de mais sete alunos. Por isso, nos próximos quatro anos, as suas portas vão continuar abertas. Daqui a cinco anos o panorama poderá alterar-se e, quem sabe, também ela poderá fechar as portas.



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