Os responsáveis pelo Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro (AEMD) reclamam do Governo "mudanças significativas" para o ensino do mirandês, a começar pela elaboração de manuais próprios para lecionar a segunda língua oficial em Portugal.

"Na maioria das disciplinas, o Ministério [da Educação] assegura o empréstimo dos manuais escolares aos alunos. No caso do mirandês, são os professores a criar a suas próprias ferramentas e metodologias de ensino. A disciplina de Língua e Cultura Mirandesa torna-se numa situação complicada, porque não existem no mercado livros que possam ser adaptados para o ensino desta cadeira", disse à Lusa, o presidente do AEMD, António Santos, no arranque de mais uma no letivo.

Para o docente, esta situação da falta de manuais de ensino em mirandês não é só um problema do Governo, mas também dos agentes locais e da falta de financiamento para a sua elaboração e aquisição.

"Reconhecemos que somos uma população escolar reduzida e aqui não impera a lei do mercado. Ninguém vai fazer livros para ganhar dinheiro. O que é um facto, mais uma vez, é que os alunos não vão ter acesso a manuais escolares para a disciplina de mirandês, que é facultativa", concretizou António Santos.

Segundo o responsável pelo AEMD, todos os anos os professores de Língua e Cultura Mirandesa têm de preparar os seus materiais pedagógicos, uma situação "que rouba bastante tempo ao seu percurso de ensino da disciplina".

"Nós contribuímos muito com o orçamento das escolas, que já é muito escasso, para elaboração das materiais de ensino, como é caso das fichas de trabalho. Os professores de mirandês trabalham muito com fichas de ensino que são fotocopiadas, uma situação desgastante para os docentes, que têm níveis de ensino desde o pré-escolar até ao 12.º ano e não uma solução cabal para este problema", enfatizou o também professor.

Passados mais de 34 anos sobre a primeira aula lecionada em mirandês, atualmente, num universo de 611 alunos, há 404 que este ano letivo se matricularam na disciplina de Língua e Cultura Mirandesa, apesar de ser opcional.

"Houve uma ligeira subida face ao ano passado, o que contraria uma tendência negativa que se vinha verificado com a perda de alunos. Nem que esse aumento fosse apenas de um aluno já ficávamos satisfeitos", frisou.

O presidente do AEMD defende que é preciso ter um corpo docente estável, para lecionar a cadeira de Língua e Cultura Mirandesa, nomeadamente com professores do quadro, já que "não há nenhum grupo de professores para esta disciplina".

"Esta situação não garante estabilidade profissional aos docentes. Este ano temos professores para esta disciplina. Porém, no próximo ano, podermos não ter docentes, até porque poderá surgir uma situação que lhes seja mais favorável e o projeto de ensino do mirandês pode ficar comprometido", observou António Santos.

Mesmo com estas adversidades, o AEMD, garante que o ensino do mirandês está "consolidado" nas escolas do concelho transmontano como disciplina opcional, que começou a ser lecionada no ano letivo de 1986/87 com nove alunos do 2.º ciclo.

"O maior número de matrículas em Língua e Cultura Mirandesa é verificado no primeiro e segundo ciclos. Contudo, há alunos que, apesar da carga letiva, fazem todo o seu percurso escolar com o mirandês como opção", indicou.

Segundo os registos fornecidos à agência Lusa, o ano letivo em que houve mais alunos matriculados na disciplina foi em 2013/14, com um total de 495 alunos, que representam 66% do total dos 753 alunos inscritos nesse ano no AEMD.

Desde o ano letivo 2009/2010 que o ensino do mirandês é feito de forma contínua, desde o pré-escolar até ao secundário.

No entanto, nos últimos tempos, foi dado um passo tido como determinante, que passa pela formação de professores de Língua e Cultura Mirandesa. O protocolo foi assinado e envolve instituições académicas, Governo e autarquia.



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