O cais de Miranda do Douro, porto onde embarcam e atracam os que vêm em busca da beleza das arribas através de um passeio fluvial pelas águas do Douro Internacional, tem desde há dois anos um animador muito peculiar. Trata-se de um bufo real, uma espécie protegida de ave de rapina nocturna, que faz as delícias de todos os que por ali passam ao exibir, amestrado pelo tratador, as suas proezas e prodígios.

O bicho, de porte imponente, começa por esvoaçar do braço do seu amestrador para uma espécie de parque feito exclusivamente para si. Em troca de comida, claro, e em jeito de confirmação da teoria do reflexo condicionado.

Enquanto decorre o exercício, Domingos Gonçalo vai explicando as características e o comportamento do animal: como as suas garras são perigosas, como o seu bico pode arrancar um pedaço de carne humana se a apanhar a jeito, e como as suas penas são totalmente impermeáveis. E finalmente um último exercício, para provar os seus dotes de caçador nocturno implacavelmente silencioso: através de um corredor ladeado pelos espectadores, Domingos Gonçalo faz o Duque esvoaçar até si e pousar no seu braço coberto com uma espessa protecção de cabedal, comprovando a inexistência de qualquer ruído na sua elegante planagem.

O Duque pesa cerca de 1,5 quilos, mas a sua companheira pesa o dobro. Oriundo de um centro de recuperação de aves, o bufo real manteve, desde a sua chegada ao cais, uma certa cumplicidade com Domingos Gonçalo, pelo que ficou ele encarregue de o tratar.

Mas, como toda a cumplicidade, também esta é recíproca. Domingos Gonçalo conhece esta espécie de ave desde os 10 anos, altura em que sabia já onde estavam os seus ninhos, uma situação facilitada pelo facto de viver em plenas arribas, em Paradela, "a aldeia mais oriental de Portugal", sublinha. Nessa altura, Domingos Gonçalo tinha já também, como ele próprio diz, o instinto de "não querer fazer mal".

Ainda antes de conhecer o Duque, Domingos Gonçalo descobriu, nas primeiras noites de trabalho no cais, a existência de um ninho da espécie ali bem perto, do outro lado das águas, quando à sua imitação "de bufo" se seguiu uma resposta. E actualmente, garante, existem pelo menos três casais de bufos reais a procriar nas arribas.



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