O espetáculo de dança contemporânea 'Barro' estreia no dia 17, em Vila Real, e junta em palco artistas profissionais e elementos da comunidade local numa homenagem à olaria negra de Bisalhães distinguida pela UNESCO há um ano.
A uma semana da estreia intensificam-se os ensaios para "Barro - Terra Molhada Onde a Bota Escorrega". Em palco uma grande roda verde recorda a roda onde o oleiro molda o barro. O cenário ainda está a ser construído e serão acrescentadas árvores e projeções.
A coreógrafa Mafalda Deville reparte as atenções entre os bailarinos profissionais e os elementos da comunidade. São cerca de três dezenas de voluntários, entre os quais alunos do conservatório regional de música e alunos do curso de Teatro e artes performativas da UTAD.
O espetáculo está a ser criado para homenagear o barro negro de Bisalhães e assinalar o 1.º aniversário da inscrição do processo de confeção desta olaria na lista de Património Imaterial da UNESCO (28 de novembro 2016). A produção lembra ainda o barro de Pinela, de Bragança.
"Esta peça é sobre pessoas, é sobre a comunidade de Vila Real, a forma de estar da comunidade nesta cidade. O meu foco é mostrar a diferença delas, a forma de estar e de pensar, o que elas pensam sobre a sua terra", afirmou Mafalda Deville à agência Lusa.
Durante o processo criativo a coreógrafa foi também conhecer o barro, a forma como é moldado e cozido, do peso do barro da comunidade. Falou com oleiros e foi a Bisalhães.
"Foi também uma descoberta para mim. O barro foi uma fonte inspiradora para a peça, um ponto de partida e, em subtexto, eu tenho o barro presente durante a peça toda", acrescentou.
Em palco, "em vez de barro serão moldados os corpos e personalidades".
O espetáculo começa com o tradicional jogo do pucarinho, em que os artistas amadores atiram as peças de barro uns aos outros enquanto toca a banda de música, constituída por alunos do conservatório.
Sónia Botelho é uma das bailarinas da comunidade e está a encarar o projeto como "um grande desafio". "Vamos descobrindo aos poucos o nosso papel, vamos interagindo com os profissionais. Estou a adorar", frisou.
De regresso a Vila Real depois de anos fora, Sónia está também, agora, a descobrir a história do barro e de Bisalhães. "Este projeto tem-me levado a querer conhecer melhor a minha terra", salientou.
Mariana Falcato é outra das voluntárias.
"Quando vi esta proposta fiquei de olho a brilhar. Está a ser um processo muito interessante e delicioso. Temos trabalho a identidade de Vila Real e de Trás-os-Montes, como é a nossa vivência na cidade e vai ser interessante perceber onde as nossas ideias e contribuições se encaixam", afirmou à Lusa.
Alunos do curso de Teatro da UTAD, Carlos Silva e Pedro Teixeira quiseram também integrar o elenco de "Barro" e disseram que "está a ser uma experiência muito boa" que está a servir de aprendizagem.
O espetáculo "Barro" é uma criação original promovida pelo Teatro de Vila, Real em parceria com o Teatro Municipal de Bragança e em coprodução com a Companhia Instável, no âmbito da operação "Algures a Nordeste", um projeto que visa a promoção do território cultural do Nordeste português.